Com o recente caso da expulsão do lendário Dave Ellefson do Megadeth, fato esse que, por mim e por muitos fãs e profissionais do Underground já era esperado tem tempo, me acendeu um alerta sobre a crescente desses casos que, podemos falar, no mínimo, imundos e execráveis de alguns membros de bandas no mundo da música. Eu resolvi pegar esse caso como ponto de partida para entrarmos em uma discussãozinha mais aprofundada (e livre de algum tipo de conservadorismo e polarização) para juntos pensarmos: por quê isso ainda acontece no mundo da música?

Dave Ellefson, 55 anos, casado a 22 anos, com família estruturada, sofreu um clássico “Exposed” online e teve vídeos íntimos, nos quais supostamente eram trocados entre ele e uma mulher, que, até onde se sabe, tem a chance de ser menor de idade quando começaram as trocas de mensagens e vídeos, foi oficialmente DESLIGADO esta semana do Megadeth, banda essa que, ele fundou ao lado de Dave Mustaine e, mesmo depois de um tempo fora, retornou, gravou material e por conta desse “Exposed“, acabou por ser expulso, finalmente da banda.

Mensagem retirada do Instagram oficial do Megadeth, sobre o desligamento do baixista da banda.

E como estaremos falando sobre esses casos, não posso esquecer do caso do Japinha, ex-baterista do CPM22, que, também foi expulso da banda, por conta de supostos casos de Pedofilia. E pra isso, vou deixar a fala do Badauí (vocalista da banda), no 8 Minutos com o Comediante/Poscaster Rafinha Bastos, falando sobre o caso, assistam abaixo.

Agora, tendo em vista toda a colocação acima, vem com o tio e vamos pensar: Porquê isso ainda acontece no mundo da música? Qual o “gatilho” para que, um homem com essa idade, ou mesmo qualquer outro tipo de ser atuante no meio, acabar de ferrar com a sua vida completamente, dessa forma? Para responder essa pergunta, entrei em contato com o Dr. Reinaldo Nascimento, Psicanalista pela Sociedade Psicanalística do Paraná(SPP/PR – 0787) e ele, prontamente me respondeu, exatamente assim:

Dr. Reinaldo Nascimento

Do ponto de vista psíquico, não existe diferença se o indivíduo é um profissional das artes, da engenharia, do comércio, das ciências, etc. Em todos estes ambientes poderemos encontrar pessoas que acabam se envolvendo em situações de perversões, como pedofilia, abusos, etc. Não conheço algumapesquisa que confirme um número maior de incidência destes casos no meio musical ou artístico, que em outros tipos de grupos, mas é certo que neste meio há uma maior visibilidade, pela própria característica de se estarconstantemente em uma “vitrine”, em exposição. Na clínica psicanalítica, seja qual for a queixa que leva o analisandopara atendimento, uma das primeiras observações que fazemos é a identificação de qual ou quais são os gatilhos que tem despertado o sintoma reclamado. Um gatilho é aquilo que faz ativar de forma inconsciente algo que está na psique, mas que até então não teve força suficiente para se transformar em ato. Ambientes como o meio musical, que envolvem a fama, o desejo pela fama e o assédio por parte de fãs, geram com facilidade situações que poderãopotencializar a idealização do prazer que existe estruturada de forma particular no inconsciente de todo indivíduo. E quando esta potencialização ultrapassa o princípio da lei, que está também estruturado em nossa psique, é que se transforma em ato.

Para entender esta questão da idealização do prazer e princípio da lei é necessário rever a bases da teoria freudiana. A criança quando nasce, tem seus instintos todos voltados para a satisfação, e o prazer é a sua forçaincentivadora. Ela, a criança, não precisa ser ensinada para perceber que o seio da mãe é sua fonte de satisfação e na prática da sucção descobre que é também uma fonte de prazer. Quando o bebe sente fome e chora, o seioaparece e lhe dá satisfação e prazer e depois desaparece. Isto gera no bebe a sensação de que ela é que cria o seio e o faz desaparecer, e assim ela tem a percepção de onipotência, que ela pode criar o que deseja, e ao mesmo tempoa sensação de que ela é o centro do universo, que tudo gira em torno dela e a partir dela. Durante o desenvolvimento da criança e portanto da sua estruturação psíquica, duas situações começarão a se apresentar em algum momento e provocar os ajustes nesta estrutura psíquica. Pouco tempo depois do seu nascimento, a criança que acredita ser o centro do universo, começa a perceber os afastamentos, os distanciamentos dela. Aquele seio e a mãe começam a ficar mais tempo longe. É neste processo de presença e ausência que o bebe começa a ter uma percepção da realidade. Isto faz com que ela comece a duvidar da sua onipotência e diante da angustia da perda de onipotência reage com a raiva, representado pelo morder o bico do seio.

A segunda situação é dita como a instituição da lei para a criança. O ‘jogo’ pode e não pode, do se fizer isto não vai brincar, etc vai deixando claro para esta criança que existe leis, regras para o viver e para as relações sociais.


É a instituição do princípio da lei que vai também se estruturando nesta psique que está em formação.


Estas três realidades, (princípio do prazer, princípio da realidade e princípio da lei) são a base da formação psíquica. A criança que nasce dominada pelo prazer, que é necessário para a sua sobrevivência, tem na formação dos princípios da realidade e lei, os ajustes para desenvolver a sua vida com equilíbrio entre os três princípios. É como se fossem três forças que devem atuar em conjunto, para dar satisfação a vida, mas é justamente nestenivelamento, que é muito subjetivo, que podemos cometer atos que podem ser pontuais, devido a uma pressão excessiva, ou por revelar que há um domínio de um destes pilares.


O que vimos até aqui é que duas realidades podem contribuir para que atos vistos como perversos se transformem em realidade na vida de um indivíduo. Primeiro é a realidade da sua estruturação psíquica. Como ela foiestruturada?

Existe um dominante neste tripé? A segunda realidade, é o ambiente em que este indivíduo está inserido no seu dia a dia. Quando digo ambiente, não estou restringindo a questão do assédio de fãs, que, com certeza, vai minar os desejos de qualquer indivíduo, assim como o assédio em um ambiente como um escritório, mas também o ambiente familiar. Qual é a realidade deste ambiente familiar? Como ele está estruturado? Uma família constituída não significa que está estruturada. Qual o nível de comprometimento entre os membros da família?

O que podemos dizer é que a questão é muito subjetiva. Muitas são as variações de situações e interpretações que darão forma na nossa estrutura psíquica. Mas podemos nos perguntar: Que solides estamos dando aos principais ambientes da nossa vida? Sim, como principais me refiro ao ambiente familiar (mesmo para os que moram só), a saúde mental e ambiente profissional. E como temos nos preparados para se proteger e enfrentar estas situações adversas? Como disse a escritora e filósofa irlandesa Iris Murdoch “Vivemos num mundo de fantasias e ilusões. Nossa tarefa mais árdua é encontrar a realidade.” 

Uhm, interessante, então vemos que, na visão da Psicanálise, teremos que ver diversos ambientes no qual a pessoa está inserida, o gatilho em si, podem ser diversos pontos. Mas e pra mulherada que sofre isso? Como devemos nos portar? Como elas reagem a esses casos e como elas veêm isso, pensando nisso, mandei duas perguntas para duas mulheres incríveis, sendo elas as minhas queridas amigas Iza Rodrigues(Menina Headbanger) e Isabele Miranda(Assessora de imprensa de diversos artistas) e pra elas eu fiz as mesmas perguntas, sendo elas:

1 – Qual o seu sentimento em torno do q aconteceu com o David Ellefson, em ser demitido do Megadeth, depois desse caso do vazamento do conteúdo sexual com a menina?

2 – E o que você acha de todos esses casos de pedofilia, envolvimentos de músicos e pessoas envolvidas na Indústria Musical com mulheres menores de idade?

Iza Rodrigues, A Menina Headbanger.

A Iza me respondeu assim:

“1 –Aqui não tem nem o que ‘achar’. É crime. Errado em todas formas. Totalmente imoral.
E as pessoas tem que ser punidas criminalmente por isso. Aqui você pode até resgatar alguns casos de músicos que se envolveram com essa atrocidade, como aquele franjudo do Manowar q eu não lembro o nome. Não existe nenhuma desculpa plausível pra isso. Mesmo que a desculpa seja “transtornos mentais”. É crime e ponto. Esses imbecis tem que deixar as crianças em paz!”

“2- Existem dois sentimentos: Se a guria era menor de idade, cadeia nele! Sem dó! Tem que deixar os adolescentes viverem a adolescência em paz. Mulher maior de idade querendo se envolver com músicos é o q não falta.

O outro sentimento é:
Se a guria é maior de idade, cago pra história toda.
Músicos de heavy metal traem as esposas com fãs, com groupies, desde quando o metal surgiu!
Só ficar um pouco depois que o show acaba, que todo mundo vê isso.
Se a mina é maior de idade, ele pode bater punheta a vontade, pq não é crime.
O único problema aqui é a imoralidade em ele trair a esposa. Mas como eu disse antes, músicos traem as esposas depois dos shows desde sempre.
E nem sempre a guria sabe da história, viu? No caso do David, todo mundo sabia q ele era casado. Mas tem muito músico aí pagando de solteiro pra comer menininha, mas na real tá escondendo o relacionamento.

Isabele Miranda, Assessora de Imprensa

Já a Isabele me respondeu da seguinte maneira…

1 – “O David é um mito absoluto, foi um erro ele ter se exposto dessa forma, pois a imagem dele carrega um peso muito forte e isso reverbera negativamente em cima da banda. Anos de carreira ficam prejudicados por uma exposição pessoal desnecessária, boatos, memes e outros. Li o relato da moça que veio a público e esclareceu que não é menor e foi algo consensual, imagino que isso tudo também tenha um peso grande em cima dela pois a situação se desencadeou de maneira desastrosa. Então, mesmo sendo uma questão privada, por ser uma pessoa pública isso acaba ganhando visibilidade.
Ao mesmo tempo somos todos humanos e falhamos, aconselho que os artistas se policiem em relação à esse tipo de atitude para se preservar e preservar a outra pessoa. No mais, espero que tudo se esclareça rapidamente.

2 – “Em relação à escândalos de músicos envolvidos com pedofilia e até mesmo que foram presos por esses motivos, isso é realmente triste, pois Pedofilia é incontestavelmente uma doença, um transtorno psicológico grave. A música além de uma grande paixão pra nós, também é nosso refúgio e diversão, e deveria nos trazer alegria, é lamentável que tenhamos que conviver com notícias de indivíduos que tem esse tipo de comportamento inclusive dentro dessa esfera, além do que um garoto ou garota que passam pelo processo de sofrer algum tipo de abuso da parte de um pedófilo, com certeza carregará um trauma e uma tristeza muito grande consigo, que possivelmente terá que ser tratada. São feridas muito profundas. Esses casos realmente exigem punição exemplar. Pedofilia é crime.

Aqui estou abordando esses dois casos, que tiveram uma grande repercussão dentro do nosso país, mas infelizmente sabemos do caso do Marilyn Manson e as graves acusações de violência sexual contra diversas mulheres (matéria do Headbangers LatinoAmerica), temos o triste e horroroso caso do Karl Logan(ex-guitarrista do Manowar), que a Iza citou acima, que foi PRESO por possuir pornografia infantil (matéria do Headbangers LatinoAmerica), temos também o caso do ex-guitarrista e fundador do SabatonRikard Sundén, é ainda mais grave, pois ele foi condenado por abusar de uma criança de apenas 8 anos de idade, que vinha a ser amiga da filha dele(matéria do Headbangers LatinoAmerica), gente, que doentio!!

Olhem esses casos!! Será que é correto ainda “fecharmos os olhos” para essas atrocidades??

Lógico que, não iremos esquecer que, tem mulheres que assim o querem, elas desejam esse momento com o artista e, sendo elas MAIORES DE IDADE, não tem problema. Cada um tem a consciência em responder pelos seus atos, mas necessitamos manter em mente uma coisa: independente do que gere o gatilho, cometer um ato CRIMINOSO não deve ser JAMAIS perdoado, independente de sua esfera e por isso, eu concluo que, mesmo o David Ellefson e ou o Japinha (os artistas no qual preferi me parametrizar), eles estão pagando o correto por atitudes impensadas ou tomadas no “calor do momento”. E vou colocar ainda mais, cada um de nós, homens, possivelmente já fizemos as mesmas besteiras na vida, então, por favor, não venham ser moralistas e dizer: EU NUNCA.

É muito mais correto sim, falar que errou e se eu servir como exemplo, sim, eu errei um dia, lógico que errei, mas prefiro falar, ao invés de EU NUNCA,falar: SIM, EU ERREI E ESTOU ARREPENDIDO PELO MEU ERRO, ME PERDOEM.