Se uma coisa que o Nordestino sabe fazer é se sobressair em situações completamente adversas. E isso é nato principalmente no povo cearense. Enfrentamos a pandemia, enfrentamos um governo de princípios abertamente fascistas (embora não se reconheça assim), enfrentamos a falta de dinheiro e um cenário completamente desfavorável ao som extremo. Culturalmente, somos a capital do forró, mas, com todo o respeito que merecem Luiz Gonzaga, Waldonys, Dominguinhos e Marinês, o que nós aqui gostamos mesmo é de metal. E a Underground Produções tem nos entregado regularmente concertos de grandes bandas para saciar a nossa fome e sede de balançar a cabeça. E foi assim na sexta-feira, 28 de setembro, quando, além do trio norte americano matador de Thrash/Speed Metal TOXIC HOLOCAUST, apresentaram-se dois grandes nomes do cenário local, um ascendente (DAMN YOUTH)  e um veterano (BLASFEMADOR), além de estrear em solo cearense a Black Metal OPHIRAE.

DAMN YOUTH

Sem misericórdia para com quem apoia nazistas, a primeira banda no palco do Complexo Armazém foi a DAMN YOUTH. Elton Luiz, vocal, Italo Rodrigo, bateria, Jardel Reis, baixo e Camilo Neto, guitarra, mostraram mais uma vez no palco porque são considerados uma das bandas cearenses que tem se destacado no cenário nacional. Com um show direto e reto, músicas que não deixam ninguém ficar parado, a banda despejou sem clemência sons de seu “Breathing Insanity”, uma música nova (que deve ser lançada em disco novo em breve) e, claro, a cover dos Dead Kennedys (adaptada para a audiência) “Nazy Punk/Bangers Fuck Off!”.

OPHIRAE

A próxima banda no palco foi o trio misterioso ofídico OPHIRAE. P. (baixo e voz), L. (guitarra) e F. (bateria) tocando suas canções cheias de escuridão e melodia, como “Sloth” e “Pride”. P (sim, não sabemos o seu nome) falou que queria muito tocar no Nordeste, que já sabia que o Nordeste era o melhor público. Também disse que há muito tempo queria ver o BLASFEMADOR ao vivo e mandaram um instrumental (“Rise”) para descansar a voz. Bonita canção Que momento bonito. Som bonito. A OPHIRAE não deve se tornar o GHOST brasileiro. Seu som está mais para o brutal IMPERIAL TRIUMPHANT, mas com a melodia e sujeira do metal negro. E serão bem-vindos sempre que quiserem tocar em terras cearenses (com ou sem máscaras).

BLASFEMADOR

Se a besta ainda não estava desperta, ela acordou com o som da BLASFEMADOR. A veterana cearense de Speed Metal foi recebida com muita alegria naquele que era apenas o seu segundo show após a pandemia. E com letras em português, os escravos do mal ancestral mandaram a sua mensagem de terror, metal e velocidade. Fabrício Maleficarum (vocal) agradeceu a galera apoiando o metal do Nordeste, enquanto Igor Shredder agradecia de outra forma: mandando um solo mais bonito que o outro, sempre com o apoio de peso de Decapitador e Bruxo. E é claro que teve “ei Bostonaro vai tomar no cu” em algum momento do show. Além de sons que já se tornaram clássicos, como “Speed Metal Ataque” e “Traga-me a cabeça do rei”, foi muito bom poder conferir ao vivo, pela primeira vez, sons do “Cosmofobia”, álbum que o BLASFEMADOR lançou em meio à pandemia.

Setlist:

  1. Intro – O despertar da Besta
  2. Mal Ancestral
  3. Fome animal
  4. Destruição total
  5. Speed Metal Ataque
  6. Terror Extraterreno
  7. Charles Manson
  8. Epidemia, Fome e morticinio
  9. Re-animator
  10. Traga-me a cabeça do rei
  11. Esta noite encarnarei no teu cadáver
  12. Estrada da Fúria

TOXIC HOLOCAUST

Não foi a primeira vez que a TOXIC HOLOCAUST tocou no Ceará. Isso talvez explique o público aparentemente pequeno para esta segunda vinda de Joel Grind e sua gangue à capital alencarina. E, se na primeira vez os caras acabaram competindo com os reis do prog metal (DREAM THEATER) que tocaram na mesma data, agora a competição era com um punhado de bandas covers que pipocavam em bares da cidade. Ok, cada uma escuta o que quiser, vai aonde quiser, mas, como dizer que apoio a cena se, quando tem duas bandas excelentes de fora e duas igualmente excelentes locais, eu prefiro escutar os mesmos “enter sandmans”? Alguém me explica?

Enfim, Grind (voz e baixo), acompanhado de  Tyler Becker  (bateria) e Robert Gray (guitarra) começaram o show com “Bitch”, seguida de “Silence”. E havia uma vantagem no espaço vazio que havia na casa: muito espaço para a roda. Praticamente sem tirar de dentro, o trio dos Estados Unidos continuou despejando um speed atrás do outro, “Gravelord”, “Wild Dogs” (que Joel disse ter escrito para os bangers presentes), “I Am Disease”.

Tocando sons de praticamente todos os discos que saíram da cabeça de Grind, mas, principalmente de “An Overdose of Death” e “Chemistry of Consciousness”, e sem favorecer tanto o último lançamento, “Primal Future”, o show da TOXIC HOLOCAUST foi rápido, brutal, sem firulas e sem pausa pra descanso. Nem mesmo na hora do bis o trio chegou a desligar qualquer dos seus instrumentos. Só se recolheram pra uma água, talvez, e em menos de um minuto já estavam de volta mandando “666” e fechando com seu maior sucesso, “Nuke the Cross”. É, bomba nuclear pra fazer estrago não tem descanso não.

Setlist

  1. Bitch
  2. Silence
  3. Gravelord
  4. Acid Fuzz
  5. Wild Dogs
  6. T.O.M.I.C.
  7. I Am Disease
  8. In the Name of Science
  9. Primal Future
  10. Out of the Fire
  11. Hell on Earth
  12. War Is Hell
  13. Reaper’s Grave
  14. Endless Armageddon
  15. 666
  16. Nuke the Cross

Agradecemos à Underground Produções, pelo contínuo apoio à cena, tanto trazendo bandas que sempre quisemos ver, quanto dando espaço às locais, e proporcionando aos presentes um espetáculo, uma overdose de metal rápido e pesado.

Agradecemos também ao Chris Machado, pelas imagens que ilustram esta matéria. Confira mais na galeria abaixo (clique para ver em tamanho maior).

Damn Youth

Ophirae

Blasfemador

Toxic Holocaust