Quando Dale Thompson, mais parecendo haver saído da série Sons Of Anarchy, subiu ao palco do teatro Vanucci em outubro de 2024, os fãs já sabiam se tratar de um momento histórico para os apreciadores de White Metal, afinal o Bride estava de volta ao país. Ao lado de seu irmão Troy (guitarrista), com Nenel Lucena no baixo e o conhecidíssimo gospel drummer Alexandre Aposan na bateria completando o time, o Bride mostrou mais uma vez porque é uma das bandas mais aclamadas do Heavy Metal mundial. Às vésperas de completar 40 anos de carreira (a contar do primeiro registro, o maravilhoso Show No Mercy de 1986), o Bride anunciou o lançamento de Vipers And Shadows, o primeiro registro duplo de sua extensa carreira, para o mês de maio. Mas o que esperar da banda nesse novo disco? Segundo o guitarrista Troy Thompson, o bom e velho heavy metal não será deixado de lado, porém, terá novos sabores adicionados por meio de instrumentos de certa forma incomuns no estilo, como Bandolins, Violinos e Violoncelos, tocados pelo próprio Troy. Enquanto aguardamos esse lançamento, que tal conhecermos um pouco mais sobre o Bride e sua importância para o White Metal mundial e suas influências em terras tupiniquins? Vamos lá então.

No princípio

O Bride é uma banda norte americana formada em 1983 em Louisville, Kentucky pelos irmãos Dale e Troy Thompson. Chamando-se a princípio de Matrix, a banda passou a se chamar Bride antes de lançar seu primeiro disco, o já citado Show No Mercy de 1986. Nesse período incial, Dale às vezes tocava contrabaixo e seu irmão Troy revezava entre baixo e guitarra, até que fecharam o time com Frank Partipilo no baixo e Stephen Rolland na bateria para o lançamento de Live To Die, em 1988 e Silence Is Madness de 1989. Para fechar o ciclo (com uma mudança de gravadora) a banda lançou em 1990 a coletânea End Of The Age. Essa coletânea representou não apenas o fim dos trabalhos dos novos membros como também preparava para uma sonoridade mais hard rock que se seguiria por um longo tempo. Se antes o Bride bebia na fonte de grupos como Judas Priest e o heavy metal setentista, a partir daí a coisa ficaria mais mainstream. Ao adotar influências de grupos como o Guns n’ Roses a sonoridade se tornou mais acessível sem abrir mão do peso e da agressividade costumeira. Apesar de ser uma coletânea, duas músicas inéditas se tornariam hinos da banda: Everybody Knows My Name e Same Ol’ Sinner.

A era comercial: Serpentes no playground!!

Ao recrutar Rick Foley para o baixo e Jerry Mcbroom para a bateria em 1991, o Bride começou a experimentar êxito comercial com o lançamento de Kinetic Faith. No ano seguinte, o maior sucesso comercial da banda viu a luz: Snakes In The Playground. Com hits como Psychedelic Super Jesus, Rattlesnake e I Miss The Rain, a banda explodiu no meio cristão, com sucessos em rádios e shows sempre lotados. Uma curiosidade: nessa época Dale foi cogitado para substituir Michael Sweet no Stryper, o que nunca de fato aconteceu.

Em 1994, já com o hard rock agonizando ao redor do mundo, lançaram o pesadaço Scarecrow Messiah. Com riffs cortantes, vocais afiados, climas sombrios e agressivos e temas cáusticos como dúvidas, medos e incertezas da caminhada cristã, o disco fecha mais um capítulo da vencedora história da banda com chave de ouro. Talvez seja um  importante capítulo para o que viria a seguir.

Uma Era de Mudanças

No meio cristão, quando algo não sai conforme o esperado e as lutas se intensificam em nossa caminhada costumamos usar uma expressão de desabafo: SÓ JESUS NA CAUSA!!

É justamente essa expressão que vêm à cabeça quando pensamos no período compreendido entre 1995 e 2001. Lógico que quem ouviu o disco anterior se deparou com uma canção de extremo mau gosto chamada Questions, uma espécie de rap pra lá de esquisito, mais ou menos nos moldes do que fez o Guns n’ Roses com aquela porcaria chamada My World, do Use Your Illusion ll. Ali já dava pra se ter uma idéia de que o futuro seria nebuloso.

E agora? Grunge?

Em 1995 a derrocada começou com Drop, que apesar de alguns bons momentos como Thrill A Minute, Only Hurts When I Laugh (com uma surpreendente influência de Black Crowes e riff que lembra muito Meus Bons Amigos do Barão Vermelho), também contém verdadeiras atrocidades como Mamma (um pseudo country com influências folk e um banjo chato “riffando” a canção toda). Se por um lado as canções não estão muito inspiradas aqui, o vocal de Dale é um ponto positivo, soando extremamente emotivo e afinado, cantando em uma região mais grave, obtendo um resultado bem bacana. Se as influências alternativas experimentais incomodaram os fãs em Drop, em The Jesus Experience a influência grunge e pós grunge veio com toda força. Tentando sobreviver a um novo mercado, O Bride lançou sua “experiência” em 1997 (que ano terrível para o hard rock senhores…).

O clipe da faixa The Worm foi veiculado exaustivamente e a música tornou-se um clássico, mas é só essa mesmo. O álbum em si adotou um estilo tristonho, que dividiu opiniões, mostrando que a banda precisaria tomar providências se quiser manter seus fãs fiéis ali. Dessa preocupação nasceu Oddities em 1998, que tentou fazer uma fusão de hard rock com rock alternativo, soando pesado e cadenciado, às vezes lembrando o funk metal do Faith No More, o que está longe de ser ruim. O problema aqui reside no fato de as canções serem pretensiosas, como se a banda estivesse sendo obrigada a tocar canções que nada tem a ver com seu estilo. Há momentos que se salvam, mas no geral, é apenas o último suspiro de um estilo que já estava morto e se esqueceu de deitar, o hard rock oitentista que já se tornava apenas uma boa lembrança para a galera que amava um laquê.

Nada é tão ruim que não possa piorar, já diz o ditado. Pra provar isso o Bride lançou em 2001 uma das piores bombas desde que o homem batucava com osso para atrair fêmeas humanas da própria espécie: Fist Full Of Bees. Com influências de nu metal (em moda na época), o Bride simplesmente largou seu estilo de lado e lançou um “clássico” do Rapcore. Lógico que os fãs iriam querer queimar seus discos (eu inclusive), mas toda história tem 2 lados e no fim tudo isso serviu para que o público sentisse falta do estilo da banda.

Novos Tempos!!

A redenção viria em 2003 com This Is It, um disco pesado, agressivo e que não devia em nada aos clássicos da banda. Canções como Blow It Away, Revolution e Universe davam o tom e preparavam o público para o que esperar num show. Parecia que o Bride estava voltando a velha forma. Skin For Skin veio ao mundo em 2006. Mais peso, mais agressividade e colocando o pé na porta, o disco conta com End Of Days (que riff), a faixa título com seus bumbos duplos e riffs graves e Hang On, uma linda balada que lembra os momentos acústicos do Pride And Glory de Zakk Wylde. Esse disco pode ser considerado o mais pesado da banda.

Em 2009, a banda lançou Tsar Bomba, num tom mais obscuro do que o habitual, mais puxado pro metalcore, com riffs mais simples e cadências moderninhas, lembrando um pouco o som do Killswitch Engage.

Após 4 anos a banda soltou seu 14° disco de estúdio, intitulado Incorruptible, que apesar de algumas canções mais introspectivas, manteve o tom pesado e a qualidade em músicas como All The Kids Are Gone. O que se seguiu foi um hiato de mais 5 anos, com Dale inclusive anunciando seu fim. Tais eventos foram motivados em parte pelo suicídio de um antigo guitarrista que havia trabalhado com a banda no passado e em seu disco Tsar Bomba, Steve Osborne, em 2011. A  banda só retornaria às atividades em 2018 com o lançamento de Snake Eyes, com a velha fórmula heavy metal do Bride intacta. Com esse disco a banda mostrava estar com as energias renovadas e pronta para continuar sua jornada.

Capa do vindouro disco

A produção mais crua, fez o disco soar rústico, pesado, quase artesanal, o que lhe conferiu um charme a mais. As canções são um ponto forte desse álbum: riffs as vezes soando progressivos, e em alguns momentos parecendo um cruzamento do Metallica com o Kansas, tudo isso com letras inteligentes e atuais. Em seguida, em 2020, Here Is Your God continuou o trabalho de seu antecessor, mantendo a pegada coesa proposta anteriormente. Com vocais lembrando Rob Halford em sua banda solo, o Bride se mantém ativo, interessante e relevante, mostrando que ainda tem muita lenha pra queimar, fato confirmado com o disco seguinte, o bom Are You Awake? de 2023.  O fato é que ao fazermos um apanhado da carreira do Bride, é inevitável pensar no que vem por aí. Um disco duplo, com uma banda afiadíssima e com 2 brasileiros na formação, é bem provável que aportem em breve em terras tupiniquins. Mesmo se você não for um grande fã da banda, a curiosidade de ver como o Bride irá soar após a entrada dos novos membros já vai valer a audição. E quem sabe teremos a oportunidade de vê-los mais uma vez? Vamos torcer. E que venha  a noiva, mais uma vez.

TEXTO POR DIOGO FRANCO