Nos anos 80 não havia meio termo no rock: ou enveredava-se pelos caminhos do hair metal, aor e similares, ou mergulhava-se de cabeça nos sons extremos, mais precisamente influenciados pelo thrash metal de bandas da Bay Area, como Metallica, Exodus e Testament. O som sujo e agressivo dessas bandas também inspirou o surgimento de bandas de White Metal para um público que curtia sons mais pesados. Nesse cenário surgiram Tourniquet, Mortification e a banda que iremos conhecer hoje, o Deliverance.

Formado em 1985 na cidade de Los Angeles por Jimmy P. Brown II, o Deliverance foi um dos pioneiros do Thrash Metal cristão. Seus primeiros discos são fortemente influenciados pelos primeiros do Metallica, com bases rápidas e riffs quebrados mesclando agressividade e melodia, num Speed/Thrash arrasa quarteirão. Claro que uma banda que soasse assim no meio cristão iria levantar polêmicas e críticas, o que cá entre nós, só reforça a qualidade do grupo (quando evangélico chiita critica algum som pode conferir que a qualidade é inegável).
As comparações com a banda de James Hetfield e companhia não são exageradas, já que o Deliverance também quis adaptar seu som para algo mais “palatável” a partir do quarto disco, o excelente Stay Of Execution, de 1992. Se antes a banda transitava entre o Testament e o Metallica, a partir de Stay, a banda parecia querer soar como um Queensrÿche vitaminado. Vale lembrar que o clipe de Weapons Of Our Warfare (do disco homônimo, considerado por muitos a obra prima da banda, lançado em 1990) foi citado por Lars Ulrich do Metallica como um de seus 10 melhores vídeos de metal em 1999.

Essa fase fazia uma mistura entre o Prog Metal e o Metal Alternativo da época, claramente visando expandir seu mercado e alcance, sem contudo abrir mão de sua qualidade musical e letras versando sobre fé, apocalipse, armagedom e tudo mais que envolve liricamente uma banda de Thrash.
A partir de River Of Disturbance, de 1995, a banda mergulhou ainda mais no rock alternativo, a ponto de contar com a colaboração do grupo de hip hop 12th Tribe na faixa A Little Sleep, o que certamente causou estranheza ao seu público.

A mudança sonora ainda rendeu 3 álbuns até que o grupo se desfez após o lançamento de Camelot In Smithereens em 1995. A banda se reformulou em 2001 e lançou o disco Assimilation. A sonoridade flertando com o industrial atraiu alguma atenção mas não o suficiente para que o grupo se mantivesse na ativa e sendo assim a banda se desfez mais uma vez. Assimilation soa como se Rob Zombie contratasse o David Guetta pra passar seu som, o que soa no mínimo curioso, o que não significa que seja ruim, apenas moderninho demais. Em 2007 a banda lançou seu sétimo disco, o bom As Above – So Below, com uma sonoridade densa, lúgubre e arrastada, beirando o doom metal e em alguns momentos mais rápidos parecendo o Nevermore (aliás, O Nevermore já vinha sendo referência a partir do disco anterior). Algo meio Sevendust/Slipknot também foi injetado ao som da banda, e apesar de manter o peso, nessa fase já não havia nem sombra do Thrash/Speed dos primórdios.

Em 2011 a banda anunciou que Hear What I Say encerraria sua carreira (mais uma vez). O disco saiu em 2013 e Jimmy veio a público dizer que apesar do anunciado fim, a banda lançaria material inédito em 2016, o que de fato ocorreu apenas em 2018, com o lançamento de The Subsersive Kind, com sonoridade bem parecida com a do último trabalho, ou seja, Nu Metal/Alternative e uma pitadinha de Thrash, de maneira tímida.

Os motivos pelos quais o Deliverance não tenha alcançado o mainstream nada tem a ver com falta de qualidade musical. A banda não se estagnou, e agradando ou não, não se limitou a um estilo de som pesado apenas, e até mesmo os álbuns menos inspirados possuem peso e força indiscutíveis. Talvez o fato de ser uma banda cristã faça com que a estética sonora soe um pouco caricata para quem não segue a religião (preconceito, diga-se), ao mesmo tempo em que seu som pesado provavelmente ainda choque a galera religiosa que acha que todo som que fale de temas cristãos devesse servir para tocar em cultos dominicais, o que é uma tremenda baboseira.
O Som…
Se você curte Testament, Metallica, Kreator e afins, pode ir na primeira fase da banda sem medo (do primeiro ao quarto disco, onde começam as mudanças). Se você curte misturas sonoras, prog metal a la Dream Theater e Queensrÿche e um pouco de metal alternativo tipo Coal Chamber, vai gostar mais de Learn, de 1993, River de 1994 e Camelot de 1995. A partir de Assimilation, se você for fã de Groove Metal, Nevermore, com flertes de Nu Metal, vai curtir como se não houvesse amanhã. Vale destacar um diferencial no Deliverance: a banda conta com vocais extremamente melodiosos, que encaixam surpreendentemente bem no som pesado da banda, tornando-os a banda perfeita pra quem curte bons vocais.
No fim das contas, o som dos caras deve agradar a qualquer amante de som pesado, desde que ouvidos sem preconceito. A formação atual conta com: Jimmy P. Brown II nos vocais, guitarras e teclados, George Ochoa na guitarra solo, Brian Khairullah no baixo e Jim Chaffin na bateria.
Discografia de Estúdio:
- 1989 – Deliverance
- 1990 – Weapons Of Our Warfare
- 1991 – What A Joke
- 1992 – Stay Of Execution
- 1993 – Learn
- 1994 – River Of Disturbance
- 1995 – Camelot In Smithereens
- 2001 – Assimilation
- 2007 – As Above – So Below
- 2013 – Hear What I Say
- 2018 – The Subsersive Kind
