A banda que iremos falar hoje vem de uma terra tão encantadora quanto gelada, a Suíça. Amantes de chocolates, relógios e canivetes vão descobrir que há som pulsando energicamente em meio ao frio cortante.

Formada em 1995 na cidade de Berna, próximo aos Alpes Berneses (uma cadeia de montanhas que fazem parte dos famosos Alpes Suíços), o Shakra é uma banda de hard rock que segue uma linha oitentista similar ao de seus conterrâneos do Gotthard, ou seja, animado, pesado e na medida. Contando com Pete Wiedmer nos vocais,Thom Blunier nas guitarras ao lado de Thomas Muster, Oliver Linder no baixo e Roger Tanner na bateria, o Shakra alcançou notoriedade em seu país natal após abrir shows de bandas como Great White, Uriah Heep,  Guns n’ Roses e Iron Maiden (no festival Spirit Of Rock), bem como uma turnê européia onde excursionou com Hammerfall e Stratovarius por 12 países.

O começo da banda foi promissor, com 2 discos lançados (Shakra de 1998 e Moving Force de 1999) e boa recepção do público. A estrada para o sucesso, contudo se tornaria mais íngreme após o lançamento do terceiro disco, o elogiadíssimo Power Ride, de 2001. Após um desempenho vocal competente e cheio de entrega, o vocalista Pete Wiedmer deixou a banda por problemas de saúde.

Para seu lugar foi chamado o desconhecido Mark Fox, que conquistou o público com seu carisma e forte presença de palco. Sua estréia em estúdio não poderia ser melhor: Rising, de 2003 atingiu as paradas da Alemanha além de seu país. Com uma sonoridade que transita entre o Krokus (a maior banda suíça de hard rock) e o Bon Jovi, o disco em questão se mostra uma verdadeira coletânea de riffs e melodias cativantes características do estilo, como a linda balada I Will Be There (que sabe-se lá porque nunca se tornou mundialmente conhecida) e a pesada Trapped. A dupla de guitarristas cria temas cantáveis e que grudam na mente, e isso fez com que o público europeu voltasse as atenções para a banda, que como já mencionado, passou a abrir shows de medalhões do rock e ser escalada para festivais de renome como o prestigiado evento Bang Your Head. Colhendo os louros da boa recepção ao novo vocalista, a banda entrou em estúdio novamente para gravar o que viria a ser o disco Fall, em 2005.

O Shakra causou polêmica com o lançamento do clipe Chains Of Temptation, que mostra o vocalista Mark Fox se aplicando heroína. Com Mark nos vocais, a banda ainda gravaria mais 2 discos: Infected em 2007 ( mais moderno em comparação aos outros, sem abrir mão do hard rock) e Everest de 2009 ( outro trabalho elogiado e competente).

Após a saída de Mark, a banda seguiu os passos de tantas outras e recrutou um jovem desconhecido da Ásia para o posto. Diretamente da Índia, John Prakesh foi apresentado ao público com a ingrata missão de substituir um vocalista já consolidado e identificado com os fãs. Tal qual o Journey com Arnel Pineda, a mudança dividiu opiniões, o que em nenhum momento se traduz em falta de capacidade vocal de John. Com sua voz pendendo um pouco mais para o rasgado, encaixou perfeitamente com a sonoridade do grupo, como mostram os 2 discos gravados no período em que esteve na banda. Back On Track saiu em 2011 e Powerplay em 2013, sem muitas novidades no som, mostrando que a banda nunca se importou em seguir tendências.

Para que a banda pudesse se reorganizar foi lançado 33, uma coletânea com os melhores momentos do grupo já com o baixista Dominic Pfister assumindo os graves. A solução foi trazer Mark Fox de volta, que reestreou em grande estilo, com o disco High Noon em 2016, que traz uma sonoridade que pode ser classificada como a fusão perfeita do Aor com a NWOBHM. A banda segue na ativa, e já gravou mais 3 discos após High Noon, Snakes And Ladders de 2017, Mad World de 2020 e Invincible de 2023, todos com Mark nos vocais.

Talvez o maior problema do Shakra seja a falta de originalidade aliada à época em que surgiu. O fã mais desavisado sabe que os anos 90 (especialmente a segunda metade) não foram nada fáceis para o hard rock. O público roqueiro da época era composto de fãs de rock alternativo á la Smashing Pumpkins e adolescentes com casacos de flanela suados admiradores de melodias tristes e vocalizações “ovo na boca”, estilo Eddie Vedder. Se tivessem surgido nos anos 80, poderiam muito bem ter alcançado um patamar mais elevado e hoje em dia figurariam nas listas de maiores bandas do hard rock mundial. Ao menos em seu país mantém certa regularidade, com discos frequentemente entrando nos top 10 das publicações locais.

O Som…

A bem da verdade, o Shakra não é um grupo revolucionário, que tem a originalidade como ponto forte. Se você é fã de Gotthard, Krokus, Bon Jovi e até mesmo AcDc dá pra escutar sem medo. Se você espera grandes inovações ou algo que te tire da zona de conforto vai se decepcionar, mas se você procura um som vibrante, com instrumental poderoso, melodias cativantes e aquela sonoridade típica dos anos oitenta, essa banda não pode passar despercebida. Além de tudo, seus discos possuem trabalhos com algumas das artes de capa mais belas já lançadas.  O Shakra faz um hard rock envolvente, daqueles que dá vontade de sair sábado à noite pra curtir som e dar aquela resenhada depois de um dia cansativo no trabalho. Com o Shakra é garantia de boas canções e energia lá em cima.