Nota: 4.5/5
De repente ouvi um solo e pensei que era o Satriani. Explico. Recebi antecipadamente o álbum da OMMINOUS, que foi lançado neste final de semana (18 de julho), e o coloquei pra tocar. Antes disso, estava ouvindo o álbum novo do guitarrista careca surfista prateado no Spotify. Por algum motivo, alguém me chamou pra algo urgente, sei lá, parei a audição e fui fazer outra coisa. Mais tarde, esbarrei nos controles de mídia numa hora meio imprópria (zoom call, can you hear me, sabe como é) e começou aquele solão de guitarra. Ato contínuo, corri pro Spotify para calar as cordas do Satriani. Não era o Satriani.
Há uma grande curiosidade quando uma banda termina e outra surge em seu lugar. Embora a COLDNESS oficialmente ainda exista e deva ser reformulada, a OMMINOUS surgiu do que a COLDNESS foi antes, uma das bandas mais batalhadoras e inovadoras em seu estilo, dona de, como eu já havia arrematado em matéria para a Roadie Crew, um Heavy Metal de Luxo. É com este legado e também com esta responsabilidade (e não podemos esquecer aqui das palavras do Tio Ben Parker – exatamente estas que vieram à sua mente agora) que Lenine Matos (voz), George Rolim (baixo) e Yago Sampaio (guitarra) deram a Omminous à luz. E, se faz completo sentido falar tanto da COLDNESS neste primeiro parágrafo (ou melhor, segundo), e é também impossível começar de outra forma, não faz, absolutamente sentido algum continuar falando nos parágrafos seguintes. A OMMINOUS surge como entidade própria, com sua própria luz, seu próprio estilo, nem melhor, nem pior. É uma espécie de New Order do metal, saída de uma Joy Division também pesada, no meio Heavy Metal alencarino. Outro adendo: à época da gravação do álbum, Diego Vidal segurava as baquetas. Hoje o posto é ocupado por João Felipe, filho de Pedro Neto, que também foi baterista da COLDNESS. Ou seja, pelo DNA, ficou tudo mesmo em casa.
Muitas vezes é difícil saber se estamos ouvindo um álbum de estreia ou o terceiro álbum de uma banda. O fato ocorre tanto pela memória irrascível da “joy division” que os originou, mas também pela maturidade do trabalho. Terceiros álbuns são sempre um marco. Explico: os primeiros sempre consigo a trazem a explosão da surpresa e os erros do frescor da banda, enquanto os segundos arcam com a responsabilidade de manter a dita surpresa e corrigir quaisquer erros que porventura crítica e público tenham apontado, ficando os terceiros livres disso tudo e apresentando a personalidade, seja boa ou seja má, já firmada (o que parece, definitivamente, ser o caso aqui). Assim, não há em “Immensity” nem a pretensão de se mostrar demais, nem a pressa que muitas vezes faz com que tudo pareça desajeitado. Estamos aqui, isso é o que fazemos e o fazemos bem. E vocês já sabem disso. Temos um novo nome, mas não somos surpresa pra ninguém. É assim.
Passemos para as canções agora. “Behind All The Consent” é o single do álbum. Pra quem compartilha o estado do Ceará, não é a única já conhecida, uma vez que a banda tocava o álbum quase na íntegra nos shows que fez no mundo de antes. Depois de uma bela intro, começa empolgante e se mostra uma canção muito bem estruturada, com pontes que levam a refrão grudento e letra meio “Carry On”. A estrutura bem dividida em estrofes, pontes e refrãos também não lhe é exclusividade. A maioria das seguintes opta pela mestra estratégia de composição.
A vibe continua em “Vile Maxim“, com a banda se entregando de vez ao Power Metal e um trabalho impressionante da guitarra de Yago Sampaio. “Prisoner of a Present Time” é mais uma abordando temas filosóficos/psicológicos, com um personagem em conflito consigo mesmo, com seu interior, com seu exterior e, como a letra e o título nos levam a inferir, com o próprio tempo. Mais um excelente trabalho de guitarras e uma cozinha muito bem posicionada, com destaque sempre que necessário, mas não mais que isso. Lenine também explora muito bem todas as escalas que sua voz alcança aqui e adiante ao longo do álbum. O ponto alto do álbum, pelo menos até agora, é “Black Sun“, uma canção um tanto mais longa (extensa para os padrões underground) e com referências à cabala.
“Why” engana. Inicialmente parece que vai ser uma canção mais direta, sem tanta firula, mas, embora mantenha a vibe mais rock and roll, surpreende com um longo solo de guitarra que toma propriedade da canção. E é injusto chamar aquilo de solo de guitarra, porque George Rolim e Diego Vidal estão muito bem e eloquentes em seus instrumentos. De forma alguma constituem um mero suporte.
A instrumental “Tunnel to the Underworld” cumpre exatamente a sua função, ligar as duas partes do álbum, mas bem que poderia se extender mais (os sons de teclado meio synth-pop são uma delícia e este que vos escreve é fã declarado do estilo).
A segunda parte do álbum começa como a anterior, power metal muito bem feito, com um pé no progressivo, vocais explorando o limite, parte instrumental muito bem executada e letras abordando temas filosóficos/psicológicos. E a indicação também vai para que a mídia física seja adquirida para que se tenha acesso às letras (uma evolução enorme), o que nem sempre é possível no Streaming. “Into Decay” e “Overcasting Skyes” são dois exemplos que reforçam esse dito. Não me escuso de ressaltar novamente, mesmo que inoportuno, uma vez que temos apenas um músico de estúdio e não alguém que assine pela banda, o trabalho do tecladista João Victor, músico de estúdio mais conhecido na cena gospel.
“Sideral Death” é outra excelente e antecede “Master of Disguise“, uma em que mandam muito bem na letra. Talvez a música que você precise ouvir na hora certa. Estas duas tem participações especiais de Cesário Filho (solando sua guitarra malmsteenica em “Sideral Death“) e Germano Monteiro, vocal da OBSKURE, com guturais em “Master of Disguise“. Então, guitarras e baterias dão um descanso para a balada do álbum. Mas “Breakthrough” é mais que uma balada. É um momento emocional e solitário, apenas voz e teclados, numa ambientação delicada. Aqui, Lenine Matos não precisa explorar seus agudos e falsetes, bastando deixar do lado de fora do peito o coração. Sensacional e, até dá pra dizer, corajoso interlúdio em um álbum majoritariamente pesado.
Um disco tem que fechar de forma que se tenha vontade de ouvir de novo. E a suíte progressiva “Immensity” cumpre bem esse papel, além de também ter a responsabilidade de dar nome à obra inteira. Chamar de suíte não é absolutamente correto porque, embora seja uma longa canção para padrões radiofônicos, a canção nem é tão longa assim (menos de 7 minutos – cala a boca, Daniel Tavares, isso é coisa de quem quer mais), mas não há mesmo uma outra descrição melhor na cartilha.
Como veredito, pode-se dizer que a OMMINOUS inicia com “Immensity” sua carreira de forma extremamente bem fundamentada. Não é surpresa para quem já os viu no palco, embora produção e mixagem também tenham os seus méritos. É uma banda que nasce sem umbigo, adãoeevando-se a si mesma, mas não são inocentes.
A Omminous é:
Lenine Matos (vocal)
George Rolim (Baixo)
Yago Sampaio (Guitarra)
João Felipe (Bateria)
Track list
1 – Behind all the Consent
2 – Vile Maxim
3 – Prisioner of a present time
4 – Black Sun
5 – Why?
6 – Tunnel to the Underworld
7 – Into decay
8 – Overcasting Skies
9 – Sideral Death
10 – Master of Disguise
11 – Breakthrough
12 – Immensity
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