“RECONHECIMENTO DO TALENTO OU APENAS MÃO DE OBRA QUALIFICADA E BARATA?”

O presente texto foi inspirado no vídeo abaixo, no qual os músicos brasileiros que acompanharam Warrel Dane no processo de composição e de gravação do álbum Shadow Work (que teve sua importância aumentada em virtude do falecimento do vocalista durante as gravações), falam do processo de composição, produção e de suas contribuições para a construção da obra, lançada ano passado (2018).

Nesse sentido, esta análise propõe uma reflexão boa pra bate-papo de mesa de bar. Nesse momento você, leitor, pode se perguntar se discussão é relevante e o que está em jogo? Bem a discussão é pertinente e não tem o propósito de desmerecer o trabalho de ninguém, mas apenas pensar sobre o papel e o valor do músico brasileiro enquanto artista e como este se ajusta às lógicas do mercado nacional e do internacional.

Para começo de conversa, sabe-se que não é de hoje que o talento do músico brasileiro extrapolou as fronteiras do país, chegando à América, à Europa e a outros lugares. Não foi por causa do Sepultura, nem do Kiko Loureiro. Também não foi no âmbito do rock/metal que os brasileiros obtiveram os primeiros “likes” lá fora. Carmem Miranda e Sérgio Mendes são bons exemplos disso.

Posteriormente, impulsionados pela força do movimento do  jazz e da Bossa Nova, foi a vez de nomes como João Gilberto e Tom Jobim ganharem fama mundial. Logicamente, há mais nomes, mas como esse não é o cerne da questão, não nos deteremos nesse ponto.

O fato é que o gênero Rock/Metal parece constituir atualmente, a maior vitrine para os músicos profissionais  brasileiros. Alguns exemplos estão listados abaixo:

PAUL DI’ANNO

Di’anno (2000): Paul Di’Anno (vocal), Paulo Turin (guitarra), Chico Dehira (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Aquiles Priester (bateria). Com esta formação gravaram um excelente disco intitulado NOMAD, que poderia ter conquistado sucesso internacional se houvesse sido lançado noutras condições.

 

ROCKFELLAS (2008): Paul Di’Anno (vocal), Canisso (Raimundos, baixo) e Jean Dolabella (ex-Sepultura, bateria) e Marcão (ex-Charlie Brown Jr.). Com esta formação, houve promessa de álbum, que não foi gravado, mas excursionaram pelo país fazendo uma boa série de shows.

LEATHER LEONE

LEATHER (2016): Leather Leone (vocal), Vinnie Tex (guitarra), Marcel “Daemon” Ross (guitarra), Thiago Velasquez (baixo) e Braulio Drumond (bateria). Com esta formação, que – creio –permanece até hoje, a ex-vocalista do Chastain gravou o álbum LEATHER II, fez alguns shows pela América Latina e hoje está sediada nos EUA, onde tem feito shows regularmente.

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WARREL DANE

WARREL DANE (2017): Warrel Dane (vocal), Johnny Moraes (guitarra), Thiago Oliveira (guitarra), Fabio Carito (baixo) e Marcus Dotta (bateria). Shadow Work é o segundo trabalho solo de WARREL DANE, que não foi concluído de acordo com o planejado devido ao seu falecimento em 12/2017. O mini-doc, que segue, contém imagens das gravações, entrevistas com os membros da banda e com o produtor Wagner Meirinho, além de trechos das músicas As Fast As The Others, Disconnection System e Rain.

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Esta lista certamente pode ser aumentada, mas os casos em questão já fornecem uma boa mostra do quadro geral. Todavia, desenvolvendo o raciocínio, a verdade é que as referidas estrelas têm em comum o fato de terem experimentado o sucesso, haverem atingido o auge em algum momento e depois terem se afastado dos palcos por um motivo qualquer. Dessa forma, ao buscar recuperar o tempo perdido, eles parecem ter tentado pegar um atalho e, ao que tudo indica, este atalho pode ter sido formar bandas com músicos talentosos, pouco famosos e dispostos a ganhar menos.

Nesse sentido, a partir do acima exposto, várias perguntas podem ser feitas. Entre elas:

  1. O movimento das estrelas “caídas” ao recrutar músicos que, ao mesmo tempo, são competentes e pouco experimentados em nível global, ocorre apenas no Brasil?
  2. O músico profissional brasileiro tem constituído nessas situações somente mão de obra qualificada e barata?
  3. Se o músico brasileiro é reconhecido por sua competência técnica, porque as bandas brasileiras não estouraram mundialmente?

As perguntas são difíceis de responder e, a bem da verdade, nem sabemos o que fazer com as respostas (se elas vierem) mas creio que a brincadeira valha a pena!

VEJAM O VÍDEO:


FONTE: