Em uma maravilhosa parceria entre o Headbangers Brasil e a Veros Metal Web Radio, podemos trazer para vocês uma cobertura de como foi a passagem do vocalista Neil Turbin pelo país, tanto no show no domingo, bem como na segunda-feira, quando o vocalista recebeu fãs e imprensa no The Metal Bar, em São Paulo. Obrigado a Amanda Basso pela parceria, texto e fotos.

Quando eu era criança, me lembro de pirar assistindo Marty McFly passeando pelo tempo num DeLorean DMC-12 do Dr Brown, e participando dos acontecimentos mais malucos que a História pudesse oferecer.

Eu queria aquele carro. Eu queria aquele passeio. E confesso que ainda quero!

Mas o que eu quero dizer com isso? Simples, que nesse último domingo, 23, esse passeio aconteceu.

O Caveira Velha Produções junto com o Som do Darma não só trouxeram alguns dos expoentes do heavy metal dos anos 80, como bandas novas que fazem um som com os mesmos ingredientes selvagens e inocentes dessa época tão querida pra todos.

Neil Turbin, dono da voz do álbum de estreia do Anthrax, Fistful of Metal, encabeçava a festa que aconteceu no Jai Club, lá na Vila Mariana. Mas estava longe de Neil fazer essa festa sozinho, e aí entra o que eu conheço como uma das maiores referências de metal nacional dos anos 80, a carioca Azul Limão, que tocou seus maiores hits, como O Grito e Satã Clama Metal, do álbum Vingança, de 1986, mas isso foi só um gostinho do que ia rolar.

As portas do Jai estavam marcadas para abrir às 16h, mas sofreu um pequeno atraso de quase meia hora, mas isso não desanimou nem um pouco a galera, que se amontoava na calçada da casa. Cerveja, conversa alta e muita risada era o que se ouvia numa tentativa fila que se formava.

Portas abertas. A casa não é grande, na verdade ela é extremamente aconchegante (pra não dizer minúscula), o que só fez o público se lembrar dos tempos de doideira juvenil, já que ele era majoritariamente maior de 40 anos, em que ele se metia em garagens de amigos pra curtir aquela paulada na orelha.

E o fim da tarde abriu com Vingança Suprema, banda de thrash com influência de metal nacional. Anthares, Taurus, Dorsal Atlântica e outros nomes fortes do gênero podem ser reconhecidos facilmente no som desses caras que são pesados e muito autênticos. Por mais que o festival tivesse apenas começando, o público se mostrou bastante receptivo.

Depois de pouco mais de 35 minutos, sobe ao palco Warsickness, outro nome do thrash que traz aquela lembrança do gênero ainda no começo os caras têm aquela pegada de Sepultura + R.D.P, naqueles shows malucos que você sabia como começava, mas não fazia ideia de como terminava. Walcir Chalas, da lendária Woodstock Discos promoveu vários desses encontros, então vocês podem imaginar o que aconteceu, né?! Algumas rodas se abriram e um senhor que caiu no chão chegou a me preocupar, mas ele estava melhor que eu, quando acabo de acordar. Que vitalidade!

A banda que ficou famosa com Stay Drunk in Hell, de 2015, aproveitou o trocadilho e lançou a venda de sua cerveja, uma IPA aromatizada junto com a nova camiseta. O combo saía por R$80,00. Energia, técnica, simpatia e muita cerveja é o resumo desse show, que foi fantástico.

Hammathaz, sobe ao palco. Caramba, adoro me surpreender. Eu ainda não os conhecia, mas a surpresa foi tão grata, que virei fã. O último disco, The One, foi indicado ao prêmio de melhor lançamento de 2021, pela Revista Dynamite e melhor álbum nacional, pela Revista Roadie Crew. Certificações não faltam pra esses meninos de Sorocaba.

Se você quiser ouvir essa pérola, The One está disponível em todas as plataformas digitais de streaming. E caso você ouça, e faço votos para que isso aconteça, você vai notar uma diferença: Fernando Xavier é o nome dessa diferença. Este garoto fã de Corey Taylor e Mike Patton, duas lendas, deu novos ares pra voz dessa banda que faz uma mistura inusitada de thrash, heavy e progressivo, sem perder a qualidade e apenas somando novas experiências.

A banda chocou tanto o público com seu caldeirão de informações, que ele ficou parado, tentando absorver o que estava acontecendo. Hammathaz prometeu o inferno e trouxe o inferno. Me lembrei do palco vermelho, de 1994, no Monsters of Rock, no show do Slayer. New Blood, Dear Death, So It Comes, Self Chained, False Gods, Farawell e Bringing Hell, impressionaram a galera, mas quando Fernando desce do palco, pra cantar um tributo merecido aos pais do gênero, Sepultura, Roots Blood Roots, o Jai veio a baixo. Você precisava se segurar ora não cair. Aquele lugar pequeno conseguiu comportar umas 3 rodas simultâneas, moshpit… Realmente o inferno veio!

Selvageria sobe no que eu achei que não tivesse mais salvação: o palco. Não pensei que fosse possível destruir mais alguma coisa. Banda coesa, com um som enxuto, pesado, que faz jus ao nome.

Lembra que eu disse lá no comecinho do texto que isso era uma viagem no tempo? Então, o speed metal dessa banda lembra demais Agent Steel, Exciter, não que a banda não tenha personalidade, porque eles têm até demais, mas é que desde as camisetas que os meninos usavam (um deles estava com uma peita do Anthares), passando pelo estilo e jeito que tocavam… Me senti numa festa em 1983, e o mais incrível dessa história é que eu nem tinha nascido ainda nessa época! Esses paulistas estão na batalha desde 2005, e merecem todo carinho e respeito que o público demonstrou. Foi o show com mais moshpits que eu vi na vida!

O relógio marca 19h. O que isso significa? Azul Limão no palco. Aquele desfile de clássicos do debut Vingança passou por mim e eu nem acreditei. Que coisa linda. Show compacto, emocionante, técnico e energético. Combinação perfeita de quem sabe o que está fazendo há quase 40 anos.

Galera sobe no palco pra trocar algumas bandeiras, sobe e desce de caixa e perto das 21h ele aparece. O cara. Neil Turbin: o homem que fez Scott Ian e companhia parar de tocar só cover, a pessoa que mostrou que era possível escrever músicas como o Iron Maiden e não só tocar as músicas dos caras.

Neil teve alguns problemas com o som. Foi quase meia hora pra deixar tudo do jeito que ele pediu. Isso mesmo, pediu. Porque a arrogância de estrela esquecida passou longe desse cara, que como ele mesmo diz: “eu só quero fazer um som e trocar umas ideias”.  Um cara simples, daqueles que você pode chamar pra assar uma carne em casa e brincar com teus filhos, teus cachorros…

Pra alegria da galera, os hinos de Fistful of Metal foram tocados. Panic, Deathrider e Soldier of Metal foram tocadas e cantadas a plenos pulmões pelo público, enquanto suas músicas solo, apreciadas. E, pareceu que Turbin tinha muita noção de como funciona o mercado fonográfico, já que ele mesmo fez questão de dizer que sabia que “a maioria não conhecia sua carreira fora do Anthrax” então ele tocaria suas músicas pra gente conhecer o que ele fez depois. Ele foi simpático, grato e mostrou uma felicidade incontida. Ele agradeceu às pessoas que foram assistir a seu show, já que dois amigos queridos também se apresentavam no mesmo dia: a lenda Udo Dirkschnnider, ex-Accept e Tim “Ripper” Owens, ex- Judas Priest.

Neil Turbin gostou tanto do Brasil e dos amigos que fez aqui, que pensa em voltar com seus cães. Quem sabe de vez.

E o dia foi assim: começou com uma vontade louca de voltar no tempo, passou pela emoção de deja vu, e se encerrou com a vontade de olhar pra frente, feliz com o que está por vir.

Sendo que, na segunda feira, um dia depois do show, aconteceu o Meet & Greet do Neil Turbin no The Metal Bar e acontece que quando você imagina um evento desses, você sabe que vai ter uma fila de fãs que pagaram por esse encontro e um artista profissional, que vai tratar as pessoas com respeito e um pouco de simpatia.

Como me enganei, o que aconteceu realmente foi um encontro de amigos, regado a muita música boa e cerveja. Sabe aquele papo que flui e você fica sabendo até que seu ídolo curte cãezinhos? Nesse nível. Um cara apaixonado por falar de tudo: de seus ídolos – não cansou de falar como Iron Maiden, Deep Purple e AC/DC pautaram sua vida musical; de seus amigos – contou sobre o dia que ele e Blaze Bayley se encontraram pra fazer um som, e de como ele ligou na mesma hora, quando soube da cirurgia do amigo; das coisas da vida, piadas…

E ele trocou essa ideia com toda pessoa que se interessasse em sentar ao lado dele, eu mesma fui lá e ainda ganhei uma Trooper Aces High (e é gostosa, viu?!).

Uma fila foi formada no começo do encontro, e pra cada foto tirada, ele sacava uma palheta do bolso e te entregava, agradecendo por você ter ido ao bar, pra poder vê-lo. Mas com o passar do tempo, você percebia que essa fila era mais inútil que copo furado, porque ele ficou – solícito – na mesa dele até às 23h, que foi o horário marcado para o fechamento do The Metal. Quando você levava um disco pra ele autografar, ele tinha o cuidado de avisar pra tomar cuidado com a tinta da caneta, pra não borrar. Só vi mais um cara fazer isso em toda a minha vida, e ele já faleceu: Lemmy Kilmister, que falou com aquela sua voz característica “cuidado que vai borrar!”, quando um amigo levou um livro pra ele assinar.

Ah, e tinha uma IPA à venda por R$25,00, muito elogiada, por sinal. Toda a tiragem foi vendida!

Momentos como esses são raros!

A banda paulista Hammathaz, que acompanhou Neil em toda tour nacional também estava presente e adiantou que no primeiro semestre do ano que vem eles lançarão seu próximo álbum, ainda sem nome e, já no próximo mês, dois singles com clipe, que será disponibilizado pra todas as plataformas.

Turbin foi embora hoje e já deixou saudades, e ele se disse bastante comovido também, afirmando que quer voltar o mais rápido possível, talvez até trazendo seus cães com ele.

 FOTOS DO SHOW POR KÁTIA CLARINDO
FOTOS DO M&G POR AMANDA BASSO