“Com o jeito de 2020

Sempre que surge a oportunidade de escrever sobre a banda que colocou New Jersey no mapa do Hard Rock nos anos 80, eu tento deixar bem claro uma situação que é muito cristalina. A banda Bon Jovi, aquela que foi headliner do Monsters of Rock de 1987, tendo como open-act DIO e Metallica, só para citar dois grandes nomes, deixou de existir a muito tempo – principalmente depois que o guitarrista e co-escritor Richie Sambora se foi levando consigo a maior parte do combustível de rock da banda que ainda restava.

Bon Jovi é uma banda de um cantor solo e o som atual do conjunto reflete exatamente como ele é. Ano passado o vocalista declarou que o próximo álbum – esse aqui em questão – seria algo mais arriscado. Agora com o disco em mãos a conclusão é que pode ser verdade, liricamente falando, conforme vamos comentar a seguir, mas letras não são tudo e quando alguém constrói uma carreira como a dele, é de se esperar, pelo menos parcialmente, que as faixas possuam rifes de guitarra mais presentes e robustos, e a economia feita nesse setor cobra seu preço no resultado final.

Musicalmente não espere nada de ‘arriscado’, pois aqui você vai encontrar muitas tentativas de soar como um Springsteen, mas sem a energia do original. Então nos resta é ver o lado positivo de um reflexivo Jon, expondo suas preocupações com o mundo atual em suas letras e deixando suas mensagens.

Limitless” abre o disco de forma morna e nos lembrando dos nossos limites perante a vida e assim caminhamos pelas dez faixas. “American Reckoning” trata da morte de George Floyd e todas as suas repercussões e Jon mostra sua preocupação com a atual situação em seu país. “Do What You Can” é um rock pop com uma boa mensagem, e Jon ensaia cantar de forma mais incisiva como na velha “Blood on Blood”, mas sem o mesmo peso na melodia é claro. Ele repete o tom em “Let It Rain”, mas o resultado não fica muito diferente. Para não falar que não tem nada voltado para o rock mais denso, “Brothers In Arms” tem um Q de Creedence Clearwater Revival, mas que para funcionar de verdade poderia ter um baixo bem mais destacado e um rife mais presente, mas mesmo assim é uma das melhores faixas de “2020”.  As fãs do cantor, que pouco estão ligando para os rifes, irão adorar a balada “Story Of Love”, mas mesmo em terreno seguro a voz de Jon não parece ser a mesma de antigamente.

Em resumo, “2020” é pop rock com algumas letras bem introspectivas, poucos rifes e alguns solos mesmo que pouco inspirados. A ótima produção deu um privilégio óbvio ao trabalho vocal e não poderia ser diferente, pois no fundo todos sabem que a banda Bon Jovi já é a um longo tempo uma extensão solo de seu dono e principal personagem. Jon escolheu um ótimo título para esse trabalho, pois apesar das letras conscientes, musicalmente falando esse disco tem a cara do ano atual e nós sabemos que 2020 não vai deixar saudades.

Nota: 2,5/5

Tracklist:

  1. Limitless
  2. Do What You Can
  3. American Reckoning
  4. Beautiful Drug
  5. Story Of Love
  6. Let It Rain
  7. Lower The Flag
  8. Blood In The Water
  9. Brothers In Arms
  10. Unbroken

Bon Jovi:

Jon Bon Jovi – vocal

Tico Torres – bateria

David Bryan – teclados

Phil X – guitarra

Hugh McDonald – baixo