NOTA: 4/5
Confesso que nunca fui fã da cena hard rock dos anos 80, assim sendo, um de seus principais nomes, nunca foi lá do meu interesse tanto em sua sonoridade como em sua história. Porém, ao me deparar com o filme da Netflix, arrisquei a assistir do que se tratava e dali descobri que havia sido inspirado em um livro, e assim como a maioria das adaptações desse formato, a fonte primária sempre traz mais detalhes e se aprofunda mais ao contar uma história. Estava certo.
Em 450 páginas, trazidas pela Editora Belas Letras, “The Dirt – Confissões da banda de rock mais infame do mundo”, faz jus ao seu nome, pois adentra em toda a sujeira moral e física que os degraus até a fama e mesmo depois desta, em que caminham (ou rastejam), Nikki Sixx, Tommy Lee, Vince Neil e Mick Mars.
De início, achei que seria mais um retrato egocêntrico e pomposo, como a maioria das coisas em volta do nome Mötley Crüe são, ou mais uma perversão da mente extrapolada de Sixx se achando o dono do universo, e de fato isso é, enquanto esses quatro são jovens, porém, ao se mostrarem humanos, mostrarem de onde vem de verdade toda essa pompa, o livro adentra e revela quatro homens que na verdade são garotos assustados com um mundo cruel que os engoliu e a duras penas mostra que as coisas não são como eles imaginam ou pensam ser, nem que o próprio Nikki Sixx não pode controlar eventos maiores do que suas crises de ego ou mandar tudo ir “se fo…”e esperar que tudo se resolva dessa forma ou por si só.
O livro vai muito além do que o filme resvala, somos apresentados à momentos bastante inimistas que marcam esses caras de uma forma que passamos a nos compadecer deles, como a morte da filha de Vince, que é uma parte bastante tocante e confesso que me marejou os olhos, e não imaginávamos o sofrimento de todos ali, em vista do que temos apresentado no filme que nem de longe faz um relato do que realmente aconteceu. Outro ponto bastante tocante é quanto à irmã perdida de Nikki, que ao reencontrá-la, a história não tem um desfecho nada feliz. O controverso casamento de Tommy e Pamela Anderson que é relatado de cabo a rabo e como tudo aconteceu.
Outro ponto bastante interessante, é a saída de Vince e a chegada de John Corabi para os vocais, que tem sua passagem na banda bem esmiuçada e revela alguns processos que nem todos sabiam, inclusive do pós saída do cantor.
Ainda existe um álbum de fotos coloridas, que ganham legendas feitas pelos membros da banda explicando onde os cliques foram realizados e quais eram as suas condições naquela hora, onde quase sempre estavam alucinados, além de outras tantas espalhadas por dentro dos capítulos.
A editora Belas Letras entrega um material rico nesta biografia. Mesmo para os que não são aficionados do Mötley Crüe, como eu próprio, a leitura é um tanto chamativa e prende, onde acabamos querendo saber mais e qual será o desfecho dessas seres que parecem ter vindo a terra com um missão, que é a de balançar o mundo através das suas determinações, e pode acreditar que para o bem ou o mal, eles conseguiram.
“Voltamos ao básico e finalmente aceitamos o fato de que somos o Mötley Crüe. Não somos uma banda de rap, não somos uma banda pop. Somos apenas uma banda que canta sobre as alegrias do goró, do sexo e dos carros. Uma banda que prospera em não se assentar. Prosperamos com as brigas e aos juntarmos três contra um. Prosperamos comigo sendo despedido, com Tommy saindo, com Nikki tendo uma overdose e com Mick sendo um velho pirado. Tudo o que deveria ter nos matados só nos tonou mais perigosos, poderosos e determinados.” – Vince Neil