Resenha: Immortal – Northern Chaos Gods (2018)

“A poderosa energia negra está mantida”

Nota: 4/5.

Nunca pensei no Immortal como uma banda de fases. Explico: as coisas eram de um jeito quando Horgh (Reidar Horghagen) assumiu a bateria em 1997. Depois, ficou diferente quando Abbath (Olve Eikemo) assumiu as composições e a guitarras após o afastamento de Demonaz (Harald Nævdal) por motivo de tendinite. Mas nunca pensei nessas pequenas alterações como algo mais complexo do que a evolução natural das coisas. É bem verdade que, em seus primeiros dias, a dupla Abbath / Demonaz lançou alguns dos discos mais cruéis que o gênero já produziu. Mas quando Abbath assumiu o front, então, a música do grupo foi para outro nível. Mas, agora que Abbath se foi – talvez – para sempre e Demonaz está de volta, eu me dei conta de que o Immortal  é uma banda de fases.

Nos últimos 11 anos, o Immortal se estabeleceu lentamente, mas não silenciosamente, com uma postura de liderança na cena black metal mundial. Com a saída de Abbath, o metal negro passou a dar mais atenção a banda após o retorno da mesma, que parece, está na sua fase mais maléfica. É tanto que a banda se define atualmente como “uma cobra sem cabeça, abraçando e estrangulando a todos os seus oponentes sem remorso nem tristeza”. Com este novo disco, o Immortal retorna um passo à frente de onde estava com vista a reconquistar o trono abdicado.

A despeito de todas as fases, desde o começo em 1991, a banda em essência, sempre buscou fazer uma música fria e crua. E sua proposta musical e visual é basicamente a mesma até hoje: espinhos, cadáveres e som cáustico para derreter os ouvidos dos crentes. Suas influências revelam a admiração inegável por Bathory, Venom e Slayer e estas se fazem presentes nos seus primeiros trabalhos, como fica evidente em Diabolical Fullmoon Mysticism. Todavia, felizmente elas ainda são perceptíveis em Northern Chaos Gods.

Apesar de ser essencialmente uma banda de dois membros, o Immortal criou um universo próprio a partir de si mesmo, escrevendo músicas gélidas, rápidas e cativantes carregadas de letras fantasiosas sobre um lugar místico e gelado conhecido apenas como Blashyrk. No entanto, os anos se passaram e esse universo parece ter se dilatado de modo a engolir os seus criadores. Os músicos separaram-se a amadureceram de formas diferentes. Mas quando tudo indicava que a banda seria sepultada… quando ninguém mais esperava… eis que retornam com um álbum digno dos seus melhores momentos.

Para este que vos escreve, Northern Chaos Gods é uma obra na qual a poderosa energia negra da banda está mantida. E, pra surpresa de muitos, o nível de rispidez parece ainda mais exacerbado, dando a impressão de que a banda está com a formação clássica. Os riffs são afrontadores, a energia é caótica e gosto por destruição é o implacável. Aqui, a banda encontrou uma forma de se reinventar assimilando os próprios erros e se utilizando de uma sabedoria de quase trinta anos de estrada. Aperfeiçoou uma fórmula vulgarizada pela própria experiência testou os limites do underground. É realmente uma pena que Abbath (substituído neste disco por ninguém menos que Peter Tägtgren (Hypocrisy)) tenha deixado a banda, mas parece que era disso que a banda precisava para passar para a próxima fase. E eles conseguiram!

> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo.