O Rock in Rio é o maior festival de música do Brasil, e um dos maiores do planeta. E, principalmente para quem mora longe do Sudeste, como este que aqui escreve (moro em Fortaleza, no belo Ceará), ir a uma edição é praticamente um sonho. Ter a possibilidade de fazer a cobertura jornalística do festival é, então, bem mais que isso. Eu já cobri diversos festivais grandes e tradicionais como ForCaos e Ponto.CE aqui mesmo no Ceará, algumas edições do Abril Pro Rock, na capital pernambucana, os gigantes Monsters of Rock e SP Trip em São Paulo, escrevi sobre o malfadado MOA (vamos ver como será a nova edição) e até fui jurado dos Festivais de Rock, Reggae e Blues da Ibiapaba, mas o festival que Roberto Medina, mesmo contra a vontade do pai, insistiu em realizar em 1985 e se tornou um dos pilares do show business  ainda era o desejo irrealizado na carreira. Era.

Este ano, eu e o parceiraço, meu irmão de vida, Augusto Hunter, fomos credenciados para cobrir a edição 2022. Foi com muita ansiedade, pernas tremendo e festa que recebemos a resposta ao nosso pedido. Embora o festival aconteça em vários dias e com um número enorme de atrações de vários estilos, escolhemos cobrir os dias que mais poderiam despertar o interesse de vocês, nossos muito estimados leitores, os dias em que balançaríamos, nós e vocês, as nossas cabeças. Afinal, somos o Headbangers Brasil.

No entanto, chega daquela falácia de que “o Rock in Rio não é mais rock” – nunca foi só rock e nem é mais só no Rio – a patrícia Lisboa compete com a cidade maravilhosa no número de edições, além de já termos tido Rock in Rio nos Estados Unidos e na Espanha, além disso, é possível traduzir a palavra rock simplesmente como “balanço”, “suingue”, “agitação”, desprendendo-se do nome do estilo Rock and Roll. Hoje e sempre, o acrônimo, RIR, cabe bem mais à proposta do festival do que seu próprio nome, porque remete mais à alegria de poder entrar, estar na Cidade do Rock. Claro, se fosse SORRIR caberia bem mais, mas aí já fomos longe demais.

E falando em sorrir, esta matéria resume um pouco do que vi (e vivi) no festival. Algumas vezes, o texto soará bastante pessoal, mesmo sem largar o profissionalismo, porque o que mais vale no festival é a experiência, tudo o que ele traz junto com a música. A música é o catalizador, o aglutinador de todas as emoções, mas o conjunto de experiências, ao fim, transcende a própria música. Não deixe de conferir também o festival pela ótica do Hunter, que você encontra no link abaixo.

https://headbangersbr.com/rir-por-augusto-hunter/

BLACK PANTERA + DEVOTOS, Palco Sunset

Foto: RENAN_OLIVETTI

Quis Deus, Oxalá, Alá, Bhrama, Buda ou simplesmente o acaso, que o primeiro festival depois dos eventos de 2020, do “Black Lives Matter”, fosse aberto por duas “bandas pretas”, como eles próprios se denominam, a BLACK PANTERA e os DEVOTOS. E como não lembrar já de outra banda preta, o LIVING COLOUR, que tocaria mais tarde no mesmo palco (bem que poderia também ser ao mesmo tempo, mas aí Deus, Oxalá etc. já não foram tão caprichosos). O nome da banda de Uberaba, além de homenagear o quase homônimo partido dos EUA, também me remete ao que me falou Will Calhoun, baterista do LIVING COLOUR, em entrevista ainda inédita (e eu aqui soltando spoilers) sobre o filme “Pantera Negra”. “Melhor filme de Hollywood. Agora, crianças podem ter e se imaginar como um super-herói de cor semelhante a eles, algo que jamais havia existido”, ele me dissera.

E o Rock in Rio 2022 começa dizendo que “a coisa tá linda, a coisa tá preta”, na voz e instrumentos de Charles e Chaene da Gama e Rodrigo Augusto, falando de autoaceitação. “Padrão é o Caralho” é o primeiro som do Rock in Rio 2022. E, com o baixo no talo, logo também temos o primeiro mosh do festival. Charles falou que estar ali era a realização de um sonho, mas tenho que lembrar que não era só lá em cima. Cá embaixo o Hunter estava chorando. Os olhos do gigante estavam tomados pelas lágrimas.

Foto: Daniel Tavares

E, logo cedo, Charles já pulou no meio do público com sua guitarra, causando grande alvoroço. Depois, ao dizer que finalmente uma banda preta estava no RiR e pedir “fogo nos racistas” o público espontaneamente começou o lema que ouviríamos durante todo o dia no festival. “Ei, B… vai tomar no cu”. [Nota: optamos por abreviar o nome dito na frase por respeito aos nossos leitores. Podemos até usar uma expressão chula para falar de uma parte do corpo humano, mas escrever aquele outro nome dito aqui já seria uma afronta. Não faremos isso, não se preocupem.]

E ao som de “Fogo nos Racistas” temos também fogo também saindo dos lança-chamas”. Ao passo que Charles menciona ” intolerância contra intolerantes”, o público responde novamente com “ei B… vai tomar no cu”. Temos que lembrar que a banda, assim como nenhuma outra que vimos, entrou no coro, por motivos contratuais dado que o festival ocorre em período eleitoral.

Foto: Wesley Allen

E se tivemos aqui o primeiro som, o primeiro mosh e o primeiro protesto do Rock in Rio 2022, é justo que também tenhamos a primeira “hora da massagem”. Explico. Charles pediu para o público se dividir ao meio. Era hora do Wall of Death, um movimento comum em festivais de metal em que uma parte do público e a outra se enfrentam como dois grandes exércitos em uma violenta batalha campal, mas, claro, tudo na camaradagem (inclusive, se alguém cai, logo se junta um montinho de pessoas para proteger e ajudar a levantar). É o ápice de um show de thrash-metal (ou crossover, como melhor podemos classificar o som da BLACK PANTERA). Já vivemos isso com bandas como KORZUS, TESTAMENT, e, claro, tivemos isso novamente. Só entreguei os óculos e o caderninho ao Hunter e fui lá, para o meio da guerra, ter minha “massagem”. É uma experiência que é necessária a todo banger pelo menos uma vez na vida e era impossível não me jogar ali no Rock in Rio.

Eis que chega o Canibal. “Tem gente que anda com bíblia, que anda com arma, que anda fardado / gente do bem que vende a arma ao diabo”, declamou o vocalista da DEVOTOS, trio pernambucano convidado a fazer daquele show um momento ainda mais único, enquanto sua banda se junta à BLACK PANTERA no Palco Sunset. Mencionando como gravaram o primeiro álbum, Canibal menciona a urgência e condições em que gravaram o primeiro álbum. “Quem mora na periferia, na favela tem pressa. Nós temos pressa de vencer”. Depois os dois vocais pediram roda só de meninas, enquanto no palco tínhamos também duas guitarras e dois bateristas metendo a pancada. “Eles deveriam sair em turnê com esse show”, pensei, sem saber ainda que no final de semana seguinte as bandas se apresentariam em duas unidades do SESC em São Paulo (e esperamos que cheguem logo a Fortaleza e outras grandes cidades do Brasil).

Para encerrar essa introdução do dia mais pesado do Rock in Rio 2022, chamaram, Elza (madrinha e dona da porra toda, como a chamaram), que participou do show ao menos em forma de sua imagem no telão (e em alma também, quem sabe?). “A maior forma de resistência é o sorriso de uma mulher negra”, arrematou Charles, também lembrando da mãe, que estava ali, do pai do baterista Rodrigo, cujo nome estava no bumbo e que falecera ano passado. A canção, ainda não a última, foi, obviamente, o protesto antirracista “A Carne”, do FAROFA CARIOCA, imortalizado na voz de Elza, renascido na voz da potiguar KHRYSTAL. A carne mais cara do Rock in Rio estava ali, naquela hora, naquele show, que ainda teve menção ao “Punk Rock Hardcore Black Pantera, Punk Rock Hardcore Oto, Punk Rock Hardcore Nação Zumbi, Punk Rock Hardcore Chico Science, Punk Rock Hardcore Ratos de Porão, Punk Rock Hardcore Sepultura e Punk Rock Hardcore Alto Zé do Pinho” e até os bateristas trocando de lugar, com um baterista tocando na bateria do outro. Com três bandas pretas no dia do metal, o Rock in Rio começa muito bem. Se faltou alguma coisa? Só mesmo um dos reggaes do novo disco da DEVOTOS.

Setlist

  1. Padrão é o Caralho
  2. Mosha
  3. Godzila
  4. Taca o Foda-se
  5. Fogo nos Racistas
  6. Execução na Av. 38
  7. De Andada (com Devotos)
  8. Eu Tenho Pressa (com Devotos)
  9. Abre a Roda e Senta o Pé (com Devotos)
  10. Fé Demais (com Devotos)
  11. A Carne (com Devotos)
  12. Punk Rock Hardcore (com Devotos)
  13. Boto pra Fuder (com Devotos)

    Foto: Wesley Allen

Escolher ver o show da DEVOTOS com BLACK PANTERA foi até uma escolha óbvia, porque abriram o festival (na verdade, seriam escolhidos mesmo que em outra situação), mas, a partir daí começa a dificuldade de saber para onde ir. Eu e Hunter chegamos a dividir alguns shows para trazer-lhes o máximo de informação possível (com uma única exceção, do LIVING COLOUR + STEVE VAI ninguém abre mão). Tentei ainda ver o restinho do show da SIOUX 66, que tinha começado pouco depois no palco Rock District. Com tanto o que andar e tanto para ver naquele primeiro momento, sequer conseguimos chegar ao palco. Ficamos devendo essa (e não será a única – falaremos mais sobre isso mais tarde). Pelo menos vimos um pouco do show da TERRA CELTA, que faz um som bacana, tocando não apenas música tradicional irlandesa, mas outros ritmos tradicionais europeus, como tarantelas (bem apropriado para o palco onde estavam, o Rock District Mediterrâneo, uma recriação de uma vila qualquer europeia). Também vimos a Betta, homenageando clássicos do rock (Zepão na veia) no Highway Stage. E ficamos impressionados com algumas maquetes no grande domo que se intitulava “The Town”. Se o palco da nova empreitada de Medina, agora na capital paulista, for mesmo o que eu vi, eu até fico sem saber o que dizer. Aguardemos.

 

METAL ALLEGIANCE, Palco Sunset

Foto: Wesley Allen

O horário das 16:30 foi o mais complicado do ponto de vista de quem faz a cobertura do festival. Simplesmente quatro shows imperdíveis começando (quase) exatamente na mesma hora. No Palco Sunset, a reunião de amigos (praticamente uma banda cover), membros de várias bandas renomadas, fazendo, como chamou o amigo Marcos Bragatto, o baile do metal. Perto dali a CRYPTA, explosão death metal de Fernanda Lira no palco SUPERNOVA (o palco das “novidades” do Rock in Rio – RDP no Supernova, como artistas novos? Só pode ser piada). Mais adiante, a RAVENGIN, trazendo seu metal sinfônico para o Espaço Favela, e o metal moderno da EMINENCE no Rock District. Como estávamos em dois poderíamos cobrir no máximo dois shows completos. Impossível nos dividirmos em quatro. Aproveito o parágrafo para criticar a escalação das bandas. Para que tanto palco em um único dia. Agradeceríamos se tivéssemos mais um dia “dos camisas pretas” (o sábado seria a melhor opção) com mais alguns headliners, mais algumas underground e todas essas bandas tocando no Palco Sunset (e, sim, se misturando, se combinando como as já tão faladas BLACK PANTERA e DEVOTOS). À noite também não conseguiríamos ver o RATOS DE PORÃO, nem a OITÃO, banda do chef Henrique Fogaça com o guitarrista e produtor Ciero (da Tribo). Imaginem o absurdo que seria ver as duas bandas tocando juntas no mesmo palco. CRYPTA, atração de Wacken, merecia um Sunset, palco que a vocalista já ocupou quando tocava no Nervosa. CRYPTA com ESKRÖTA (banda emergente e quase totalmente feminina) talvez também desse uma mistura interessante. E a CORJA! com MANGER CADAVRE? seria, como os sinais em seus nomes, algo para surpreender e deixar com interrogações. Divago? Talvez. Mas que headbanger que foi ao Rock in Rio na sexta-feira não gostaria de ter motivos para ir no sábado também? E que motivos melhores do que poder ver as bandas que não conseguimos ver, acrescidas de mais algumas outras matadoras?

Ok, vamos então de Metal Allegiance. O Hunter acompanhou o show da CRYPTA e a resenha, você sabe, confere no link abaixo.

https://headbangersbr.com/rir-por-augusto-hunter/

O supergrupo de Thrash Metal formado pelo baterista que está (ou esteve) em 11 de cada dez bandas de metal, Mike Portnoy, com Alex Skolnick (TESTAMENT) e Phil Demmel (VIO-LENCE), além do baixista Mark Menghi, neste show substituído por Jack Gibson (EXODUS), não tem um vocalista fixo, gravou e costuma se apresentar com canções de seus dois álbuns e sucessos de outros mestres do Thrash Metal e até mesmo versões cheias de peso para canções do UFO e LED ZEPPELIN. Neste show as vozes foram compartilhadas pelo simpático ao extremo John Bush (ARMORED SAINT, ex-ANTHRAX) e pelo poderoso Chuck Billy (TESTAMENT). E a primeira canção, “The Accuser”, é uma homenagem ao recentemente falecido Trevor Strnad, do BLACK DAHLIA MURDER, que cantou a canção originalmente. Em seguida, Bush, o vocalista que dá início ao show, canta “Bound By Silence”, que ele próprio cantou no álbum “Power Drunk Magesty, vol II”, da Metal Allegiance. Ele também recorda o primeiro show que fez no Brasil, em São Paulo, com a ANTHRAX, em 1993.

Foto: Wesley Allen

O gente boa sai do palco e é hora do Monstro Chtulu do Thrash Metal, o índio pomo mais famoso do mundo, Charles Billy, ou Chuck Billy, cantar “Can’t Kill the Devil”, que ele também cantara no “Power Drunk Magesty, vol II”, e seguir para “Gift of Pain”, originalmente cantada por Randhy Blythe, do LAMB OF GOD. Então, com Chuck e Bush juntos no palco temos “Dying Song”, originalmente cantada pelo polêmico vocalista do PANTERA, Phil Anselmo. Mais uma revezada com cada um dos vocais para uma canção de cada um dos grupos que lhes deram fama (duas do ANTHRAX e duas do TESTAMENT – uma lindeza ver “Only” na voz de Bush, uma loucura presenciar Chuck cantando “Into the Pit”) e a grande festa do Thrash Metal é concluída com “Pledge of Allegiance” (a saber, cantada originalmente por Mark Osegueda, do DEATH ANGEL).

Em suma, o show foi enérgico, curto, mas voraz, cheio de mosh e cheio de técnica – desnecessário dizer que Skolnick é um dos melhores guitarristas de seu estilo. E Portnoy não tem seu espaço na galeria de melhores bateristas do mundo à toa. Poderia ter mais sucessos (o repertório da Metal Allegiance é uma verdadeira jukebox do Thrash Metal), mas as canções “próprias” também funcionam muito bem ao vivo. E poderia ter uma do ARMORED SAINT também, já que a voz já estava ali.

Na hora das apresentações, todos os músicos são ovacionados, principalmente Chuck e Bush, mas Portnoy é o mais aplaudido. O baterista retornou ao Brasil menos de um mês após fazer uma pequena turnê com o SONS OF APOLLO e, tocando um prog mais calmo como o de Neil Morse ou um thrashão como vimos ali, ver sua barba azul no palco é sempre motivo de alegria. Restava ainda uma vontade, uma esperança dos bangers, embora muito improvável, de vê-lo subir ao palco com o DREAM THEATER. Uma jamzinha com eles não faria mal a ninguém. Quem sabe um dia? Quem sabe hoje?

Setlist

  1. The Accuser
  2. Bound By Silence
  3. Can’t Kill the Devil
  4. Gift of Pain
  5. Dying Song
  6. Room for One More (ANTHRAX)
  7. Only (ANTHRAX)
  8. Into the Pit (TESTAMENT)
  9. Alone in the Dark (TESTAMENT)
  10. Pledge of Allegiance
Foto: Wesley Allen

Sepultura, Palco Mundo

Foto: Renan Ollivetti

O som do SEPULTURA fica bom com a orquestra. Os violinos, violoncelos, contrabaixos não dão apenas suavidade ao som pesado da mais famosa banda brasileira. Longe disso. Eles dão uma gravidade, um senso de emergência ou apuro ainda maior ao som. Perigo!

Embora o show tenha começado realmente com a leveza e plenitude que se espera de um show com uma orquestra sinfônica, logo ele se tornou aquilo que estamos começando, um thrash mais perigoso que o habitual, com “Roots Bloody Roots” e “Kairos” tendo aquele acompanhamento dramático. A temperatura desce um pouco com “Machine Messiah”, mas a banda acerta ao evitar repetir “Phantom Self”, que, embora ótima, já tinha sido apresentada no mesmo Rock in Rio anteriormente (e com a Família Lima representando os violinos tunisianos). Outras experimentações orquestrais anteriores, mais raras, foram incluídas no repertório.  “Ludvig Van” (A-Lex), fortemente baseada na Nona de Beethoven, e “Valtio” (Nation), são trazidas à tona.  Ao passo que cada uma destas terminava, o público gritava em coro, “OSB, OSB, OSB”, algo que nunca lhes aconteceu.   Não porque não merecessem, mas pelo rigor dos outros palcos em que se apresentam. Mas o ponto alto realmente de todo o show, que fez valer o Rock in Rio como um todo, eu disse como um todo, foi a versão estendida de “Kaiowas”. Heavy Metal vira clássico vira Forró, Heavy Metal vira música indígena, Heavy Metal vira música sertaneja de raiz. E temos solos até de marimba e triângulo. E um de Igor para conduzir para o final.  Esses demônios têm que lançar isso em disco para a gente ouvir 45x seguidas.

O show continua.  Os sons da orquestra tornam “Refuse, Resist” ainda mais urgente. Incrível como o som do Sepa fica bom com Tambours du Bronx, Zé Ramalho, Carlinhos Brown e, agora, com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Kisser falou da OSB elogiando o “trabalho sensacional de ensaios, respeito mútuo e admiração mútua”. Na camisa do maestro, ao invés de um paletó, como de costume, lia-se “Sepulcrew, in honor of Patricia Kisser”.

Foto: Renan Olivetti

Setlist

  1. Sagração da Primavera (Igor Stravinsky)
  2. Roots Bloody Roots
  3. Kairos
  4. Machine Messiah
  5. Ludwig Van
  6. Kaiowas
  7. Valtio
  8. Agony of Defeat
  9. Refuse/Resist
  10. As Quatro Estações – Inverno (Antonio Vivaldi)
  11. Guardians of Earth

   LIVING COLOUR com STEVE VAI, Palco Sunset

Foto: Take a View (EMÍLIO CÉSAR)

O quarteto nova-iorquino LIVING COLOUR pisou no Palco Sunset sem querer ser os bambambans, nem os últimos da fila. Queriam ser os “middle man”, como na canção que usaram para abrir seu set. E estavam realmente bem no meio do festival, pouco após o pôr do sol, no Palco Sunset. Mas falharam miseravelmente.

Falharam porque eram uma das atrações mais esperadas daquele primeiro dia de Rock in Rio 2022. Como disse, nada de acordo entre mim e o Hunter. Esse show é um pecado perder. Continuemos no show. Corey Glover, de dreadlocks verdes em cor vívida (maldita hora para fazer um trocadilho, eu sei) dedicou “Desperate People” à memória da vereadora assassinada Marielle Franco.

No entanto, a excelência no palco não se refletia em excelência no som. Estava muito baixo e o público pedia para aumentar, o que eventualmente aconteceu. Continuamos com “Ignorance is Bliss”, “Wall” (com direito a um snippet de “Iron Man” por Doug Wimbish) e “This Little Pig”, as três do álbum “Stain”.

O celebrado duelo de Vernon Raid STEVE VAI só acontece perto do final do show. “Quero chamar meu amigo, um dos maiores guitarristas do mundo”. O público grita. E grita mais ainda quando percebe que a canção será o clássico zeppiano “Rock and Roll”, com ainda mais solos do que Page pensou em fazer. Os dois mestres da guitarra continuam “brigando” ao som de “This is The Life”, da própria LIVING COLOUR, e “Crosstown Traffic”, da JIMI HENDRIX EXPERIENCE. Vernon chega a comparar VAI ao incendiário Jimi. É fato que falta um pouco mais de interação com o público por parte de Glover, mas a beleza do funk-and-roll do quarteto, abrilhantada ainda mais pela presença de VAI, compensa e faz valer aquele “culto à música”.

Foto: Take a View (EMÍLIO CÉSAR)

Setlist

  1. Middle Man
  2. Desperate People
  3. Ignorance Is Bliss
  4. Wall
  5. This Little Pig
  6. Time’s Up
  7. Rock and Roll (Led Zeppelin) – com Steve Vai
  8. This is the Life  – com Steve Vai
  9. Crosstown Traffic (The Jimi Hendrix Experience) – com Steve Vai
  10. Cult of Personality – com Steve Vai

GOJIRA, Palco Mundo

O Gojira já esteve no Brasil antes (e não só para shows – em agosto de 2021, Joe Duplantier esteve no Brasil participando de protesto indígena contra a aprovação do chamado “marco temporal”). Agora, no Palco Mundo, Joe aparece com a cara pintada, como um índio, e desfila seu metal pesado ambientalista junto com o irmão Mario (bateria), Christian Andreu (guitarra) e Jean-Michel Labadie (baixo). A banda francesa abre o show da mesma forma que abre seu álbum mais recente, “Fortitude”, com o grito desesperado “Born for One Thing”. Apresentando o álbum, é dele quase metade do show (5 das 11 canções), mas o anterior, “Magma” também foi bem representado.  O peso das canções do quarteto francês é descomunal. E aqui o som está suficientemente alto. Até um tanto mais que o esperado, praticamente um MANOWAR.

No miolo do show, Mario ensaia um solo, mas levanta um cartaz pedindo, em português, que o público responda “Mais Alto”. Pedido atendido, ele mostra o verso do cartaz. “Vocês são foda”.

Joe explica: “A gente bem que queria pular para a frente, para um tempo de mais consciência. Mas não dá. Então, há dois anos pensamos em fugir num foguete”. Era a deixa para “Another World”.  No clipe, uma versão afrancesada do filme “Planeta dos Macacos”, o original. Assista para entender. Seguindo o sucesso “L’enfant Sauvage”, não só a única de título francófono, mas também a única deste álbum, Joe envolve o público em um cântico oriental. “A aa aaaa aaaaa aa”. E o público continuou cantando a vocalização de “The Chant” mesmo depois que a música acabou.

“A próxima é muito emocionante pra gente e envolve vocês no Brasil”, explica. “Essa é sobre a destruição da floresta, não só no Brasil como em outros países que a tem”. O público não deixou barato e voltou com os protestos. “Ei, B… vai tomar no cu”. Quando a plateia se acalmou, Joe terminou: “Vocês devem defender seu povo, seu país, os povos indígenas”. “Amazonia” encerra o show da banda francesa mais brasileira de todas, com duas índias (de verdade) no palco.

Foto: screen shot durante transmissão do Multishow

Setlist

  1. Born for One Thing
  2. Backbone
  3. Stranded
  4. Flying Whales
  5. The Cell
  6. Grind
  7. Silvera
  8. Another World
  9. L’Enfant Sauvage
  10. The Chant
  11. Amazonia

GANGRENA GASOSA, ESPAÇO FAVELA

Foto: Lucas Santos Sá – @louquera

Não concordamos com o GANGRENA GASOSA quando eles dizem que “quem gosta de Iron Maiden também gosta de KLB”. Não dá para generalizar, mas é melhor dizer que “quem gosta de Iron Maidem também gosta de Gangrena Gasosa”. Não conseguimos assistir ao show inteiro da banda de “Saravá Metal”, mas conseguimos ver uma parte de seu show no Espaço Favela. O palco mais legal do Rock in Rio (Mundo e Sunset são enormes, mas, tão chapados, impressionavam pelo tamanho, mas não pelo formato) estava completamente lotado.

À frente dos casebres que emulam uma favela real, Zé Pilintra, Omulú, Exu Caveira, Tranca Rua, Pomba Gira e Exu Tiriri tocaram uma grande lista de canções passeando por toda a carreira de irreverência, mas também de rebeldia e conscientização.  – Não seja “Fiscal de Cu”. Se o vizinho gosta, o que você tem a ver?

Foto: Lucas Santos Sá – @louquera

E, mais adiante, – Satanás é invenção da igreja. Para te fazer sentir culpado. Para te controlar.

Davi, o Omulu, ainda desceu do palco para cantar no fosso, mas sem a roupa de Omulu (porque nem um orixá, nenhum deus aguenta esse calor do Rio de Janeiro).

Foto: Lucas Santos Sá – @louquera

Setlist

  1. Kizila
  2. Encosto
  3. Surf Iemanjá
  4. Black Velho
  5. Rei do Cemitério
  6. Gente Ruim
  7. Coió
  8. Quem Gosta de Iron Maiden Também Gosta de KLB
  9. Boteco Teco
  10. Terreiro do Desmanche
  11. Cambonos From Hell
  12. Matou a Galinha e Foi ao Cinema
  13. Afirma seu Ponto
  14. Headbanger Voice
  15. Folha da Bananeira (Ê Caveira)
  16. Darkside
  17. Headboomer
  18. Eu Não Entendi Matrix
  19. Fiscal de Cu
  20. A Supervia Deseja a Todos Uma Boa Viagem
  21. Centro do Picapau Amarelo
  22. O Saci
  23. Se Deus É 10, Satanás É 666

 

Oitão (ou os shows impossíveis de ver)

Ao lado da GANGRENA, mas a uma distância segura para impedir que um show interferisse no outro, se apresentou o OITÃO, banda cujo som, um crossover bastante pesado, faz com que o fato de ter no microfone uma celebridade da TV passe a ser apenas um detalhe. Logo ao fim do show no Palco Favela corremos para o outro palco, mas, infelizmente demos com a cara na porta. Só recuperamos o setlist. E vamos colocar aqui a resenha de um show que não assistimos? Não. Mas marcamos o espaço para, novamente, protestar pela escalação de tantas bandas interessantes para os headbangers na sexta-feira e quase nenhuma no sábado. É fato que o “Dia do Metal” foi o único que não esgotou os ingressos, mas isso não quer dizer que tenha dado prejuízo. Em alguns shows mal dava para se mexer. Metal é uma coisa de alma, sabe? A alma do festival merece ser mais bem tratada com agendamentos mais amigáveis, com mais dias. Segue abaixo o setlist da OITÃO. Quem sabe em 2022 os caras não estão onde merecem? No Sunset, dividindo o show com os padrinhos “roedores”, quem sabe. E na TV (não necessariamente em um reality de culinária).

Setlist

  1. Intro
  2. Chacina
  3. 4º Mundo
  4. Podridão Engravatada
  5. Doença
  6. Proteste
  7. Trevas
  8. Instinto Sujo
  9. Pobre Povo
  10. Tiro na Rótula
  11. Polícia (Titãs)
  12. Vida Ruim (Ratos de Porão)
  13. Imagem da Besta
  14. Um Grito de Paz

Iron Maiden , Palco Mundo

Resenhar o show do IRON MAIDEN à esta altura nem vale tanto. Você já viu este show na TV.  Então, vamos tentar repassar um pouco da emoção de quem está lá dentro. E com aquele mar de gente, para ver o IRON MAIDEN de pertinho era preciso não sair do Palco Mundo após a apresentação do GOJIRA. E ir ganhando espaço enquanto as pessoas se deslocavam para ir aos outros palcos, ao banheiro, circular pela Cidade do Rock. Como, na verdade, fomos uma dessas pessoas que foram se perder por aquele mundaréu de atrações, claro que não conseguimos chegar nem perto do palco ao retornar para lá. Vimos Dave Murray, Adrian Smith, Bruce Dickinson, Janick Gers e o patrão, dono da porra toda, como se fossem formiguinhas. E o Nicko McBrain, escondido atrás do seu enorme kit, nem assim.

Foto: screen shot durante transmissão do Multishow

A banda acerta ao deixar o novo disco, “Senjutsu”, apenas no começo. Assim, atende a quem gostou do álbum duplo e não aborrece quem não curtiu. A propósito, nós gostamos – IRON MAIDEN é IRON MAIDEN, né? – mas entendemos que ele é realmente cansativo e que umas duas canções poderiam ser limadas com tranquilidade.

Bruce faz questão de lembrar que era a primeira noite do Rock in Rio, do primeiro Rock in Rio depois de 3 anos, “mas vocês sabem e nós sabemos que não tem gente só do Brasil, tem gente do mundo todo para fazer parte da família Iron Maiden, porque somos ‘irmãos de sangue’ “. A gente sabe que a frase preparada é uma deixa para “Blood Brothers”, bela canção do álbum que trouxe Bruce de volta ao MAIDEN em 2000. E a seguinte, assim como no Rock in Rio do ano seguinte (que virou CD e DVD), é “Sign of the Cross”, originalmente cantada por Blaze Bailey, seguida da que não é mais surpresa, “Flight of Icarus”.

Foto: Instagram Iron Maiden

Não convém repetir aqui o que já deve ter sido visto na TV, mas captar emoções. E aqui há muitas. Algumas a TV talvez não transmita. Do povo se espremendo para pegar um melhor lugar, para ver cada detalhe, até a cor dos cadarços dos músicos… De como cantam inteira cada canção (inclusive, cada ôôôô) … Da rejeitada “Fear of the Dark”… Sim, muitos dizem querer que ela saia do setlist, mas na hora que ela começa, está todo mundo cantando. Pais estão cantando com seus filhos (tudo que eu queria era estar com o meu aqui agora) … Show é para sentir emoção. Um do MAIDEN, pelo menos, é isso. Mesmo que vejamos apenas formiguinhas. Uma dessas formiguinhas parece mais cansada, pula menos, corre menos, sobe menos estruturas do que o que vimos em outros shows do MAIDEN que fomos. Mas ainda mostra muita potência vocal e muito domínio de palco.

Chega a hora de “The Number of the Beast”. Como vai ser o Eddie? Será que vamos ter um Eddie grandão japonês dessa vez? E a ansiedade. Será que a surpresa é não ter Eddie dessa vez? Ou será só na Iron Maiden?

Os fogos no topo do palco, que ainda não tinham sido usados, dão o ar da graça (Black Pantera e Gojira usaram, mas sempre entre o palco e o fosso). E lá vem o Diabão.

O show está terminando. Que show curto! O jeito é entrar na cantoria (de novo). “olê, olê, olê / Maiden, Maiden”.

Vai ter bis. É “The Trooper”. Abro espaço para falar que devo ser uma das poucas pessoas no mundo que já passaram por uma cirurgia ouvindo “The Trooper”. O médico anestesista era fã e não há acompanhamento melhor para fazer um bom trabalho do que a música que você gosta, mesmo que seu palco seja de seringas e bisturis. Ele me perguntou o que eu gostava de ouvir e respondi o óbvio. Ele aproveitou minha resposta, colocou uma lista de reprodução no celular e ainda ouvi esse clássico, deitado na maca, antes de tudo se apagar.

Recorte de fake news com foto que tem sido espalhada em grupos e redes sociais

De volta ao 2 de setembro de 2022, temos Bruce atirando com a bandeira do Brasil (imagem que se transformará em fake news falando de um suposto apoio a um dos candidatos a presidente). Fake news somente. Publicamos aqui a foto que rolou em alguns grupos e redes sociais, mas só a parte verdadeira.

Outra que apareceu no mundo sob a voz de Bailey é “The Clansman”, agora na voz de Dickinson. Linda.

Outro bis. E tem um avião. É claro que é “Aces High”.

Senhoras, senhores, crianças, a multidão é formada por pessoas de diversas idades. Se o Iron não se renova (ou quando o faz, o pessoal reclama), a sua base de fãs se renova todo ano. E até casais novos se formam. Será que terão um novo fã daqui a uns anos?

Setlist

  1. Senjutsu
  2. Stratego
  3. The Writing on the Wall
  4. Revelations
  5. Blood Brothers
  6. Sign of the Cross
  7. Flight of Icarus
  8. Fear of the Dark
  9. Hallowed Be Thy Name
  10. The Number of the Beast
  11. Iron Maiden
  12. The Trooper
  13. The Clansman
  14. Run to the Hills
  15. Aces High

DREAM THEATER, Palco Mundo

Bruce Dickinson, ao terminar o show com o IRON MAIDEN, disse para o pessoal “ir pra casa em segurança”. Esqueceu do DREAM THEATER, que ocuparia o palco dali a pouco, fechando o primeiro dia (ou primeira noite) de Rock in Rio. Parte do público pareceu estar realmente disposto a atender o pedido. O que vamos ressaltar aqui, deixar bastante claro, é que, embora boa parte do público tenha saído da Cidade do Rock a partir dali, ainda ficou muita gente. Não se pode dizer que o DREAM THEATER tocou para uma plateia vazia. Havia menos pessoas que durante o show do IRON MAIDEN, obviamente, e até mesmo menos que durante o show do GOJIRA, mas, ainda assim, um público considerável. E maior que o do show de São Paulo, em casa fechada. Quem ficou para assistir este show garante que apreciou.

Foto: Instagram Dream Theater

Estivemos também no show de São Paulo e, sendo este uma versão menor do show que aconteceu no Tokio Marine Hall, não vamos nos alongar mais. Pelo menos três canções (uma de 20 minutos, que dá nome ao álbum mais recente do quinteto de ex-alunos de Berkeley) foram limadas e deram lugar ao clássico “Pull Me Under”. A voz de LaBrie também pareceu mais cansada (eufemismo para desafinada) aqui no Rio. O resto, sem espaço para improvisações, foi exatamente igual. Logo, logo publicaremos uma versão detalhada do show de quarta-feira na capital paulista. Confira.

Mais sobre o Rock in Rio, por Augusto Hunter:

https://headbangersbr.com/cobertura-rock-in-rio-bonus-track

https://headbangersbr.com/rir-por-augusto-hunter/

Setlist

  1. The Alien
  2. 6:00
  3. Endless Sacrifice
  4. Bridges in the Sky
  5. Invisible Monster
  6. The Count of Tuscany
  7. Pull Me Under

Agradecimentos:

Approach e Rock in Rio, pela atenção e credenciamento.
Augusto Hunter, pela parceria e amizade.

Veja mais fotos por Renan Olivetti, Fernando Schlaepfer, Anne