Trilha caótica para guerrear.

Começo de semana, mas sempre se arruma um tempo para curtir um som e por isso sempre temos uma bela dica para você aqui no nosso espaço. Lembrando que a ideia aqui é propor uma sugestão para que você ocupe um tempinho do seu dia conhecendo algumas curiosidades e o mais importante, preenchendo um pedaço do seu tempo com uma boa dose de música pesada. E nossa sugestão de hoje é o disco “Warmaster” do Bolt Thrower.

War Master” é o terceiro álbum da banda britânica de death metal Bolt Thrower, que foi gravado nos estúdios Slaughterhouse em setembro de 1990 e produzido pela própria banda e Colin Richardson. O trabalho foi lançado pela gravadora Earache Records em fevereiro de 1991.

O álbum anterior, “Realm of Chaos” de 1989 era predominante um disco calcado no puro grindcore, e ficou nítida uma mudança, devido à produção e as novas composições, que a banda quis alcançar. Em “War Master” o som assume definitivamente uma postura death metal tradicional, pois há mais melodia nas músicas e os solos de guitarra estão bem mais elaborados, embora caóticos em determinados momentos. Este também é o último álbum do Bolt Thrower que apresenta o estilo blast beat de bateria (padrão rítmico de bateria que faz uso de baquetadas rápidas alternadas ou coincidentes na caixa e no chimbal) que pode ser facilmente identificada nas músicas “Unleashed (Upon Mankind)”, “What Dwells Within“, “War Master” e “Afterlife”.

O cenário para o death metal no início dos anos 90 parecia ser muito promissor em todos os sentidos. Inúmeras bandas surgiram em diferentes locais, mas quase ao mesmo tempo, revivendo em menor escala o boom do então chamado power metal tradicional nos meados dos anos 80. Mesmo sem conseguir uma popularidade significativa, as bandas de death metal ignoravam os problemas que alguns medalhões do hard rock e do thrash metal no início da década de 90 encontraram; na verdade, as bandas de death metal acumulavam cada vez mais fãs para o estilo que era extremamente agressivo. Se você pegar, por exemplo, o catalogo do selo Rock Brigade por volta de 1991/92 vai ver nele muitas bandas de death metal, entre elas nomes importantes como Entombed, Morbid Angel e na revista matérias muito boas explicando para os ‘novos fãs’ as diferenças entre os então subgêneros do death metal como, por exemplo: ‘splatter’,‘grind’,’technodeath’,‘brutal’, ‘deathcore’ entre outros menos cotados e conhecidos. Outro motivo que hoje pode parecer patético devido à realidade atual era que o Bolt Thrower chamava atenção – não só aqui no Brasil – por contar na sua line up com a baixista Jo Bench.

A realidade das bandas era limitada as revistas especializadas, aos álbuns e aos shows. Que radio iria tocar death metal na programação diária? Portanto havia muitas limitações mesmo com esse cenário positivo e é claro, que o investimento das gravadoras era proporcional ao retorno, então você não ia encontrar muitos singles ou clipes bem elaborados e caros. Mas o ótimo álbum e a reputação do Bolt Thrower fez a gravadora Earache Records apostar na faixa “Cenotaph” que teve seu clipe, mesmo que simples, produzido e com certa repercussão em programas alternativos europeus.

O investimento valeu a pena e a “Warmaster tour” foi para a estrada com a agenda lotada, que começou na cidade de Oxford, Inglaterra em 9 de janeiro de 1991(antes mesmo do álbum ser lançado oficialmente), passou pela Escócia, Pais de Gales, Holanda, Bélgica, Alemanha, Irlanda, Suécia e Áustria totalizando mais de 30 shows pela Europa. Uma segunda etapa já em território americano teve seu início em Boston no dia 15 de outubro e se estendeu por mais 31 datas encerrando o giro pelos EUA em 3 de dezembro de 1991.

Apesar do empenho nem todos os grandes títulos do death metal foram lançados aqui no Brasil. E nesses casos e em tempos que ninguém sonhava ainda com o compartilhamento de arquivos ou coisas desse tipo, o recurso era mesmo ir às lojas especializadas e investir uma graninha em um LP ou CD. Quando eu comprei minha cópia do “War Master” em maio de 1993 na Music House, na Galeria do Rock, os CD’s já não estavam tão caros como dois anos antes, pois já era nítida a migração do público consumidor de música mudando do tradicional vinil para a mídia digital, o que fazia os importadores comprarem lotes cada vez maiores e diminuindo o custo final (economizando em impostos e fretes, por exemplo).

Agora a pouco falamos do clipe de “Cenotaph” e é possível que alguém tenha pensado, ‘será que esse clipe rolou na MTV tupiniquim alguma vez na vida?’. E a resposta por mais maluca e improvável que pareça é sim. Acredite se quiser o clipe de “Cenotaph” passou em um bloco junto com Morbid Angel e Kreator, isso em 1995, já quando o então programa especializado em música pesada da emissora, o Furia Metal, tinha mudado seu nome e se chamava apenas ‘Furia’.

Eu adoro essa banda e particularmente esse álbum, pois em minha opinião, ele representou uma evolução técnica significativa sem que o Bolt Thrower tenha aberto mão de um milímetro do seu território dentro do cenário da música extrema. Aproveite bem o seu começo de semana e incomode seus vizinhos com essa maravilha, pois os links estão à disposição como de costume. Até a próxima.

Dados:

Lançamento: Fevereiro de 1991.

Selo: Earache Records (UK)

Produção: Bolt Thrower e Colin Richardson.

Bolt Thrower:

Karl Willetts – vocals

Barry Thomson – guitar

Gavin Ward – guitar

Jo Bench – bass

Andrew Whale – drums

Tracklist:

  1. Unleashed Upon Mankind
  2. What Dwells Within
  3. The Shreds of Sanity
  4. Profane Creation
  5. Destructive Infinity (*bonus track CD)
  6. Final Revelation
  7. Cenotaph
  8. War Master
  9. Rebirth of Humanity
  10. Afterlife

(Créditos das fotos: Paulo Márcio)