Pioneiras.
Começo de semana nunca é uma coisa muito fácil, mas se tiver um som legal para curtir a coisa melhora e por isso sempre temos uma bela dica para você aqui no nosso espaço. E lembrando que a ideia aqui é propor uma sugestão para que você ocupe um tempinho do seu dia conhecendo algumas curiosidades e o mais importante, preenchendo um pedaço do seu tempo com uma boa dose de música pesada. E nossa sugestão de hoje é o disco “First” do Volkana.
“First” é o álbum de estreia da banda brasileira de heavy metal Volkana, que foi gravado entre os meses de novembro e dezembro de 1990 no estúdio Veridiana Studios, em São Paulo-SP e produzido por Carlos Eduardo Miranda, sendo lançado em dezembro de 90. O selo responsável pelo trabalho foi a gravadora Estúdio Eldorado, que na época realizava um forte investimento na área e era uma empresa que também representava a Roadracer (um braço da gravadora Roadrunner) em todo o Brasil. “First” contou com as participações de alguns convidados como: os rappers Thayde e o DJ Hum, o baterista da banda Vodu, Sergio Facci..
A origem do Volkana nos leva ao ano de 1987 no Distrito Federal-DF, quando Mila Menezes (baixo) e Karla Carneiro (guitarra) se juntaram à vocalista Marielle Loyola (vocal) e Débora (bateria), que eram ex-integrantes dos conjuntos, Detrito Federal e Arte no Escuro. A primeira demo-tape da banda intitulada de “Thrash Flowers” de 1988, que contava com as músicas “Hide” e “Descend to Hell”, chamou atenção pelo som e principalmente por se tratar de um grupo formado só por garotas, o que não era comum na época como é nos dias de hoje.
Em uma matéria publicada na revista Metal número 52 de dezembro de 1988, a banda já deixava bem claro sua intenção de se mudar para um centro maior e gravar seu primeiro disco. E de fato, em 1990 o Volkana se mudava para a capital paulista, onde foi muito bem recebida e aparentemente conseguindo uma chance dos sonhos ao assinar com o selo Estúdio Eldorado. O Estúdio Eldorado além de gravadora era a representante no Brasil dos selos Roadrunner/Roadracer, que eram extremamente conceituados dentro da música pesada e em seu catálogo contavam com nomes de grande relevância como: King Diamond, Mercyful Fate, Sepultura, DxRxI, Obituary, Annihilator, Racer X, RxDxP, Viper entre outros, o que dava uma perspectiva de futuro bem promissor ao Volkana.
Mesmo antes do LP ser gravado o Volkana se apresentava ao lado de outras bandas pelos pontos heavy de Sampa, como por exemplo, o Dama Xoc. Eventos desse tipo foram fundamentais para as moças se tornarem muito mais conhecidas, o que abriu novas oportunidades. Mila e Karla participaram do material de divulgação da estamparia Metal Kids e Mila está eternizada na capa comemorativa da edição de número 50 da revista Rock Brigade, que chegou as bancas em agosto de 1990, ao lado de grandes nomes do metal nacional e sendo a única mulher presente.
Para a divulgação de “First” a gravadora procurou fazer sua parte a começar colocando as garotas em um mesmo anuncio de vendas de LP’s ao lado de Sepultura, RxDxP e King Diamond. Essa propaganda de destaque foi publicada em revistas especializadas em música na época. Por falar em revista especializada, a Rock Brigade em sua edição de maio de 1991 dedicou seu pôster central ao Volkana.
O Volkana também conseguiu uma ampla exposição televisiva participando de diversos programas como: ‘Jô Onze e Meia’ no SBT, os programas ‘Matéria Prima’ e ‘Som Pop’ da TV Cultura, várias entrevistas e participações especiais na MTV Brasil e uma inacreditável visita ao ‘Clube da Criança’ da TV Manchete, que na época era apresentado pela Angélica (sim, essa mesmo) onde dublaram em meio a um monte de crianças a cover dos Ramones, “Pet Sematary”.
Ainda na linha de marketing de TV, o clipe para a faixa “Darkness”, que mesclava imagens editadas e ao vivo, teve sua estreia em grande estilo em uma edição do programa ‘Ponto Zero’ da MTV Brasil – programa esse que era transmitido todo domingo a noite e tinha como característica principal lançar novos clipes na programação da emissora.
Com várias apresentações marcadas não faltaram oportunidades para os bangers acompanharem pelo menos um show das moças, que a essa altura já não era mais uma banda só com garotas, pois o baterista do Vodu, Sergio Facci, que participou como convidado das gravações do primeiro disco da banda acabou ficando em definitivo. Inclusive o já citado clipe de “Darkness”, teve algumas de suas imagens capturadas em um show realizado gratuitamente na Praça do Por do Sol aqui em Sampa.
Apesar de uma crítica bem negativa – bota negativa nisso – em um review de uma publicação, a prensagem inicial de “First” esgotou antes da primeira metade de 1991, ultrapassando as duas mil cópias vendidas – vale salientar que uma crítica de um disco naquele tempo tinha um peso muito maior que nos dias de hoje. Mas o Volkana não se abateu conseguindo convencer principalmente nos shows ao vivo, pois havia um reconhecimento aberto de boa parte dos headbangers paulistas a respeito da evolução musical da banda e de seus componentes, que era evidente, e um respeito muito grande pela luta e dedicação do Volkana.
Falando tecnicamente sobre a parte musical de “First” é claro que o álbum apresenta problemas, como contar com um repertório básico de músicas muito antigas, algumas já fora do contexto proposto pelas garotas naquele momento e um erro maior ainda pode ser identificado na escolha do produtor. Carlos Eduardo Miranda, que faleceu em 2018, foi um excelente profissional que trabalhou com diversas bandas de sucesso no início dos anos 90 através dos selos Banguela Records e Excelente como: Skank, O Rappa, Virgulóides, Blues Etílicos, Mundo Livre S/A, Raimundos e DeFalla, ou seja, nomes completamente fora do mundo do heavy metal e isso pesou na hora da gravação. Outros problemas facilmente detectados são os poucos solos de guitarra no trabalho e o vocal de Mariele, que teve origem no punk, em se adaptar a evolução musical do Volkana que já começava a flertar com o thrash. Tanto que antes de entrar em estúdio novamente, a banda acrescentou uma nova guitarrista, Selminha, que agregou muito ao som do grupo e Claudia França assumiu os vocais com um timbre de voz muito mais rasgado e agressivo do que o de Marielle.
Com essa nova formação a banda grava seu segundo álbum, “Mindtrips” em 1994. É um disco com uma produção muito melhor e mais pesado que agradou aos fãs e a crítica. O Volkana também gravou um clipe para a faixa “When 2 R 1“, que foi lançado na MTV Brasil durante uma entrevista com todos os membros da banda em uma edição do Furia Metal. Era o trabalho certo, mas na hora errada e a banda acabou se dissolvendo menos de dois anos depois. Mas esse assunto fica para uma próxima vez.
O Volkana foi de fundamental importância no início da década de 90, pois serviu de estímulo e inspiração para que outras garotas se animassem a aprender baixo ou guitarra e também querer subir em um palco, lutando por igualdade de condições com os marmanjos. Se hoje temos inúmeras mulheres talentosas dentro do universo da música pesada brazuca, muito se deve a bandas e artistas pioneiras, que abriram os caminhos e o Volkana está entre elas. Os links estão à disposição como de costume, até a próxima.
Dados:
Lançamento: dezembro de 1990.
Selo: Estúdio Eldorado (Brasil).
Produção: Carlos Eduardo Miranda.
Volkana:
Mila Menezes – baixo
Karla Carneiro – guitarra
Marielle Loyola – vocal
Baterista convidado:
Sergio Facci
Tracklist:
Lado A
- Darkness
- To Die is Not to Die
- Pet Sematary
- That’s my Victory
- Descent to Hell
Lado B
- Scratch Noise
- War? Where my Enemy Lies
- Silence City
- Hide
- Volkanas
(Créditos das fotos: Paulo Márcio)