Fala, galera, tudo certo? Biel Furlaneto por aqui, e hoje eu venho falar de uma das minhas bandas favoritas, mas que é constantemente esquecida, inclusive por mim. Irônico, né?

Lar dos apaixonados, o Whitesnake colecionou sucessos ao longo dos anos: começando pela mega balada “Is This Love?”, passando por “Love Ain’t No Stranger”, “Here I Go Again”, “Fool for Your Lovin’”, “Best Years”, “Still of the Night” e muitos outros.

Mas o Whitesnake é muito mais do que seus hits. Só o fato de possuir uma discografia tão rica em elementos e variações já mostra que o ouro está bem diante dos nossos olhos — só falta enxergar.

Bora?

Wine, Women and Song (Come an’ Get It, 1981)

Antes do hard rock farofento que consagrou Coverdale e sua turma, existiu o “PurpleSnake”, ou “Deep White”, se você preferir. As raízes da passagem do vocalista pela lendária banda ainda ressoavam bastante, e o que você tem aqui é o melhor desse estilo: teclado comendo solto, com todo o resto orbitando ao redor. Coverdale canta com raiva e empolgação. Não faria feio se estivesse em Burn.

Well I Never (Flesh & Blood, 2019)

Agora bem mais próximo da sonoridade que mudou o patamar da banda, temos outra pedrada. Riff intenso, baixo e bateria conversando de forma impecável e a voz grave e sensual de David ocupando todo o espaço. Destaque absoluto para o solo belíssimo de Joel Hoekstra, que não deixa pedra sobre pedra. O fato de essa música estar no último álbum de inéditas da banda só reforça a consistência subestimada do Whitesnake em lançar petardos emocionantes.

Lovehunter (Lovehunter, 1979)

Mais uma da primeira fase. Apesar do teclado ainda dominante, essa faixa é um pouco mais cadenciada do que a anterior. A verdade é que, embora essa não seja a minha fase favorita do Whitesnake, ela guarda muita coisa bacana. O refrão grudento e repetitivo é o grande destaque. Coisa fina.

Crying (Restless Heart, 1997)

Um blues sujo e intenso. Dá pra sentir o ódio passeando por cada nota que sai da garganta de David. O pré-refrão lembra aquela parte mais lenta de “Still of the Night”, mas com personalidade própria. Vale mencionar que esse álbum foi lançado como David Coverdale & Whitesnake.

Dancing Girls (Saints & Sinners, 1982)

Faixa gostosa de uma época em que a banda começava a misturar climas e a caminhar para uma sonoridade mais comercial. Aqui temos novamente muita animação guiada pelo teclado, mas já com uma guitarra mais presente e uma bateria mais próxima do que viria a ser o padrão nos anos 80.

Ain’t Gonna Cry No More (Ready an’ Willing, 1980)

No começo você vai achar que está ouvindo a música do Big Brother? Vai. Mas depois de alguns segundos, vai se ver descobrindo uma baladinha voz e violão simples, leve e belíssima. Coverdale canta sem forçar tanto, mas mantendo seu grave característico. Do meio pra frente, a canção ganha um groove simplesmente impecável. Provavelmente a minha favorita desta lista.

All or Nothing (Slide It In, 1984)

O Whitesnake clássico da casa! Hard rock direto, impulsivo e cheio de energia — típico de uma banda que quer te tirar da cadeira. Nada de complicação: é uma faixa que entra acelerada e permanece assim até o fim. O refrão é pegajoso e marcante, daqueles feitos pra cantar junto, e a música inteira tem espírito de show ao vivo, como se tivesse sido composta pensando no público pulando sem parar. Fica esquecida em um álbum que também abriga a faixa-título, “Guilty of Love” e a estratosférica “Love Ain’t No Stranger”, mas, sinceramente, não deveria.

Straight for the Heart (Whitesnake, 1987)

Antes de começar: Não confundir com Straight FROM the Heart, do Bryan Adams, até porque abaixo voce vai entender que não existe a menor possibilidade de serem a mesma canção.

Pensa em um filme de ação dos anos 80, com luta, velocidade e adrenalina. Essa música encaixaria perfeitamente. No sensual 1987, ela até parece deslocada, mas é aquele tipo de som contagiante pra ouvir antes de uma reunião importante — ou só pra espantar o mau humor da segunda-feira de manhã. Porém, morando no mesmo álbum em que basicamente todas as outras viraram hinos, fica difícil mesmo de se destacar.

Slow Poke Music (Slip of the Tongue, 1989)

Hard rock pegajoso, com peso e melodia típicos da fase áurea da banda. Coverdale, mais uma vez, prova o quanto é genial — e subestimado. A voz desliza, provoca, flerta, como quem te chama pra dançar sem compromisso. No conjunto, tudo soa menos “produção milionária” e mais energia de banda real, cheia de atitude e personalidade.

Love Is Blind (Unzipped. 2018)

Uma lista sobre a banda que mais ama no planeta sem uma música com “love” no título beira o crime. O que temos aqui é David Coverdale com a voz, o violão, a alma e o coração dilacerado em uma letra extremamente simples e tocante. Ela faz parte do box lançado em 2018, reunindo pérolas revisitadas de forma acústica. Inclusive, o box inteiro vale a recomendação.

Bônus – Live… In the Still of the Night (2006)

Vou pedir licença para um bônus óbvio no Além do Óbvio.

Esse DVD é simplesmente um dos registros que eu mais assisti na vida. Desde o começo com “Burn” até o fim com “Still of the Night”, eu entrava em transe com uma viagem sonora de 60 minutos que mostrava que nem tudo precisa ser grandioso para ser gigante. Eram aqueles caras fazendo um som, e na frente deles um senhor encantando as pessoas como se fosse algo divino — com nada além de uma camisa social (que não precisava ficar tão desabotoada) e uma presença de palco e carisma que você não encontra por aí toda hora.

Existem coisas na vida que a gente só lembra o quão enormes são quando elas saem de cena — ou quando simplesmente não existem mais. Na música, poucas bandas passam essa sensação pra mim como o Whitesnake.

Fiquemos aqui, choremos na chuva, porque sim: era amor o que estávamos sentindo…

Obrigado por tudo, David Coverdale.

E aí, o que você quer ver no próximo Além do Óbvio? Conta pra gente aqui nos comentários