Depois do lançamento do Korn, “Serenity of Suffering“, de 2016 e um dos melhores álbuns daquele ano e da discografia da banda, uma turnê mundial de divulgação contando com shows inclusive no Brasil, o vocalista Jonathan Davis deu uma pequena pausa nos trabalhos com o grupo para lançar seu primeiro trabalho solo, o disco “Black Labyrinth“ que chegou em 2018, pela Sumerian Records. JD em entrevista disse que o álbum vinha sendo trabalhado há mais de dez anos, desde a época em que também havia excursionado com shows solos e acústicos.

Todas as características vistas na banda principal de Jonathan estão aqui, a tristeza, depressão, solidão e angústia aparecem, mas em uma sonoridade que se distancia do Korn mais tradicional, porém, óbvio que há ligação devido a forte identidade vocal e não se torna tarefa tão difícil associar uma coisa a outra. 

Undearnith My Skin” começa o disco com uma pegada mais “animada”, uma faixa simples, com um bom refrão e mostra que o disco não soará com uma simples sobra do Korn e prova o porque de se fazer um álbum solo. O refrão pega logo de cara e empolga para saber o que mais vai vir pela frente. 

Final Days” começa com violinos e percussões, algo que lembra um tema indiano, tem um clima bastante carregado e com forte presença do vocal de Jonathan. Esta faixa é uma das que circulavam há um tempo pelo YouTube como trabalho perdido do vocalista, por esse fator acaba perdendo a surpresa da mesma, mas ainda assim, bastante marcante.

Lembrando o trabalho feito na sua banda principal, “Everyone” é a faixa mais pesada do álbum e segunda a ganhar um vídeo clipe. A faixa trata sobre alguém perdido que procura a igreja em desespero mas não se adéqua ali. Não é uma simples cópia do Korn, tem sua identidade e uma das melhores do disco e dona de um ótimo vídeo.

Happiness” é das que voltam a ter uma clima mais pra cima e uma passagem bastante pesada e rápida no meio, onde Davis usa seus guturais pela única vez no disco todo. O fim da faixa vai fazer os fãs se lembrarem de “Everything Falls Apart” do Korn.

Your God” volta ao tema religioso, com questionamentos sobre Deus. Uma faixa muito boa de se ouvir, bastante marcante e tem um ótimo refrão que gruda bem fácil. Destaque para evolução da voz de Jonathan que soa como um dos melhores vocalistas atuais, sem perder sua identidade, pois aqui sua voz “chorosa” da as caras em uma passagem e vemos como ele pode alternar de forma natural seu timbre.

Em seguida encontramos outra forte candidata à melhor faixa. “Walk On By” é dinâmica, tem um belo trabalho de bateria, uma levada gostosa e um refrão bastante forte, com bastante presença vocal e uma passagem desconcertada bem ao estilo Jonathan Davis.

The Secret” traz um clima gótico, denso e pesado, cheia de sintetizadores e outro ótimo refrão onde agressividade e calmaria se misturam na voz. Faixa que se ouve mais de uma vez com facilidade.

Basic Needs” começa novamente em clima gótico para dar espaço a característica voz de Jonathan que canta em uma longa melancolia reforçando a atmosfera pesada, explodindo em um refrão que você irá cantar várias vezes no dia e uma ótima passagem instrumental cheia de feeling e groove muito graças a passagem muito bem construída pelo baterista Ray Luzier, parceiro de JD no Korn, além de contar com as guitarras de Wes Borland, do Limp Bizkit. Mais uma entre as melhores. Uma versão demo da canção já circulava há anos por aí causando mais curiosidade sobre e o resultado final não decepcionou.

Medicate” em seu início nos lembra algo feito pelo Nine Inch Nails, grande influência de Jonathan em sua carreira. Como o nome já sugere, a letra trata sobre o longo período que o vocalista sofreu sob efeitos de remédios fortes para seus problemas. Faixa meio morna, apesar de ainda boa.

Com batidas eletrônicas e um Jonathan sereno, “Please Tell Me” surge mais como um interlúdio no meio do disco. Seu final explode em uma levada industrial que casa perfeitamente com o vocal remetendo à várias bandas e Davis implorando “por favor, me digam que porra está acontecendo?”.

De novo com ares industriais, “What You Believe” traz um clima dançante, com guitarras pesadas e várias batidas de timbres diferentes em sua duração. Mais uma vez Jonathan questiona os credos das pessoas sobre entendimento da religião. Muito boa.

Gender” parece um delírio musical na verdade que não se acha hora nenhuma, passa por vários ritmos e acaba não indo à lugar algum. Faixa mais fraca e sem graça do álbum todo.

Fechando o disco, “What It Is“, primeiro single lançado do trabalho, que também conta com um ótimo vídeo, traz uma faixa pesada, lenta e carregada de angústias e melancolia, arranjada por uma bateria forte e até violões embalando-a. Tem refrão bastante forte e é um encerramento bastante marcante para os ouvintes, já se tornando uma das composições favoritas na carreira do cantor.

Black Labyrinth” foi um bom começo para a carreira solo de Jonathan, que não se sabe ainda se terá continuidade em algum momento, mas de fato é um trabalho paralelo que o reafirma como um dos vocalistas dessa geração, com uma identidade forte e própria. Aqueles que não são familiarizados com seu universo podem não se interessar muito, mas se despido de preconceitos, temos um belo trabalho musical aqui, um bom trabalho pessoal de um músico com o público e mesmo agora dois anos após seu lançamento ainda soa como algo no mínimo interessante. 

NOTA: 3,5/5

Formação:

Jonathan Davis – vocais, guitarra, teclados, violino, sitar, produção
Wes Borland – guitarras (tracks 2, 5, 8, 10, 13)
Miles Mosley – baixo (tracks 2-8, 10, 12)
Zac Baird – teclados (tracks 1–3, 7-10, 13)
Ray Luzier – bateria (tracks 1, 3–8, 10, 13)
Mike Dillon – percussão (track 2), tablas (track 8, 12)
Shenkar – violino, vocais adicionais (tracks 2, 8, 13)
Djivan Gasparyan – duduk (track 2)
Byron Katie – sample (track 11)

Track Listing:

01. Underneath My Skin
02. Final Days
03. Everyone
04. Happiness
05. Your God
06. Walk On By
07. The Secret
08. Basic Needs
09. Medicate
10. Please Tell Me
11. What You Believe
12. Gender
13. What It Is