Como pode uma música vinda de uma terra tão gélida aquecer tantos corações?

Kari Rueslåtten tem seu nome emoldurado entre as vozes femininas mais significativas no cenário da música pesada desde os tempos do mítico The 3rd And The Mortal, pois serviu de inspiração para grandes cantoras de diferentes gêneros musicais ao longo dos anos. Seu estilo é único e muito peculiar, onde o sentimento prevalece em todas as frases. É impossível ficar insensível á voz dessa artista.

Não me peçam para pronunciar “Sørgekåpe” em voz alta – meu norueguês anda meio enferrujado – e brincadeiras a parte, às vezes é bom sair do conforto que o inglês nos proporciona na grande maioria das músicas e ficar procurando o significado e a tradução de palavras desconhecidas. Segundo o tradutor do google, Sørgekåpe significa ‘fornecer cobertura’. E eu não posso pensar em nome melhor para esse disco no nosso português. Pois ele literalmente ‘cobre’ todo o ambiente com melodias belíssimas e inspiradas. A voz de Kari cantando em seu idioma nativo, fato que não acontecia desde o álbum “Spindelsinn” em 1997, soa muito mais natural e cria uma atmosfera convidativa, principalmente ao som do dedilhado do violão, que é destaque na faixa título.

Svever” já tem aquela cara de world music, que só artistas com muito calibre se atrevem a arriscar. Kari é muito versátil e é claro que o resultado ficou muito bom, podendo ser trilha de qualquer película sobre fadas. Nos primeiros acordes de “Månen lyser Ned” o clima mais pessoal volta à tona e novamente a voz de Kari espalha pelo ambiente sua poesia. Em seguida temos “Når mørket faller” e dessa vez eu vou dar um conselho. Feche os olhos, essa melodia não foi criada para se apreciar de olhos abertos. Se imagine em um lugar calmo, e deixe a melodia e a voz de Kari te transmitir aquela paz que às vezes nos faz tanta falta. Disparada é a faixa que eu mais gostei do álbum.

Blind”, que mantém o mesmo tom, é de uma beleza admirável. Uma certa calmaria toma conta do ambiente, com Kari utilizando variações harmônicas enquanto recita os versos da canção. A quase folkAlt brenner nå” é mais alegre e contagiante, lembrando muito passagens que Ritchie Blackmore gosta de usar em sua atual banda, o Blackmore’s Night. “Savn” me passa a sensação de ser uma faixa muito introspectiva, vamos nos lembrar, que estou apenas ouvindo as músicas, sem preocupação alguma com letras ou mensagens. E olha, que legal poder fazer isso depois de um bom tempo.

Øye for øye” é curta, mas oferece um interessante ‘duelo’ entre os vocais de Kari, os backing vocals e o som arrastado da melodia. E fechando o álbum, “Storefjell”, onde outro show de interpretação nos é oferecido por essa cantora de tanto talento. No meio de dias tão complicados como os atuais, poder ouvir melodias tão inspiradas é um verdadeiro bálsamo para o coração e para a alma.

Fico imaginando o quanto foi subestimado o projeto The Sirens, em que Kari, ao lado de Anneke Van Giersbergen (ex-The Gathering) e Liv Kristine (ex-Theatre of Tragedy) proporcionavam um espetáculo magnífico e sem precedentes. Mereciam maior destaque, sem dúvidas. Por isso, o incentivo a projetos como esse é essencial, para que continuemos sendo brindados com músicas de qualidade como essas que Kari Rueslåtten está nos proporcionando mais uma vez. Mais do que nunca é preciso apoiar os artistas, todos sabem os problemas que estamos vivenciando no mundo nesse momento. Escute as faixas no spotify, mas se possível compre o CD, vinil, ou algum produto. Só com o suporte dos fãs, artistas como Kari poderão continuar espalhando tantos sentimentos positivos em forma de boa música. Além do mais, trata-se de um excelente trabalho. Compre.

Nota: 4,5/5

Tracklist:

1.Sørgekåpe          

2.Svever     

3.Månen Lyser Ned        

4.Når Mørket Faller       

5.Blind         

6.Alt Brenner Nå 

7.Savn          

8.Øye For Øye      

9.Storefjell

Músicos:

Kari Rueslåtten – vocal

Jostein Ansnes – guitarra

Gjermund Silset – baixo

Lundberg Stian  – bateria

Frode Flemsæter – teclados