Resenha: Rotting Christ – Aealo (2010 – Relançamento 2020)

Tracklist:

01. Aealo
02. Eon Ænaos
03. Δαιμόνων βρῶσις (“Demonon Vrosis”)
04. Noctis Era
05. Dub-Saĝ-Ta-Ke (instrumental)
06. Fire, Death and Fear
07. Nekron Iahes… (instrumental)
08. …Pir Threontai
09. Thou Art Lord
10. Santa Muerte
11. Orders from the Dead

 

 

 

É fato que muitos fãs de Metal extremo ainda possuem a ideia de que o Black Metal surgiu na Escandinávia, o que é um erro. Antes da Second Wave of Black Metal (SWOBM) surgir, Venom, Bathory, Hellhammer/Celtic Frost, Sarcófago e alguns outros já haviam dado duas contribuições preciosas para o gênero. Por outro lado, concomitantemente com a Noruega e a Suécia, países como Itália, Canadá, Brasil e outros mostravam suas garras, embora poucos ainda lembrem o quanto o cenário da Grécia foi seminal para o gênero. E o Rotting Christ é um dos nomes mais importantes para o sucesso comercial do gênero por conta de trabalhos como Triarchy of the Lost Lovers e A Dead Poem, que teve um período de transição que começa em Sleep of the Angels se estendeu até Sanctus Diavolos (que, de certa forma, provocou agitação entre os fãs mais antigos). Em Theogonia, a banda se reinventou, mas é com Aealo (lançado originalmente em 2010) que recebem uma vez mais uma recepção mais ampla dos fãs.

Aealo é a transcrição latina para a palavra grega ΕΑΛΩ, cujo significado é algo como destruição ou catástrofe. E ele mostra o amadurecimento do estilo que haviam traçado já em Theogonia, ou seja, um enfoque mais épico/étnico do Black Metal sombrio e melodioso que fazem desde seus primeiros álbuns, criando uma autêntico festival de contrastes, e que balanceia a agressividade ríspida com as melodias soturnas de sempre (agora, bem mais focada nas guitarras que nos teclados). Além da riqueza melódica das músicas, o minimalismo tem termos de arranjos também dá aquela impressão se som “cheio” e robusto, mas sem que se torne pedante ou difícil de ser engolido. Outro fato interessante: vários músicos convidados aparecem o disco, graças ao uso de corais, vocais femininos e masculinos, e mesmo o uso de uma Tsampouna (uma prima da gaita de fole escocesa) em “Eon Ænaos”. Ou seja, tanta diversidade, mas sempre sob uma guia coerente e responsável criaram uma obra de arte definitiva para a banda.

O guitarrista/vocalista Sakis uma vez mais assumiu a responsabilidade de produzir, mixar e masterização um disco da banda, e nas duas últimas tarefas, foi assessorado por Dimitrios Douvras (que também fez a engenharia de som). E a qualidade sonora de Aealo é uma evolução do que se ouve em Theogonia: uma sonoridade clássica, que remete ao Hard Rock dos anos 70, para deixar tudo soando orgânico e com o frescor da atualidade, mas sem que a essência Epic Black Metal seja perdida. E sem falar na bela capa criada por Jérôme Cros (que nesta edição, está toda em um pape envernizado especial, com direito a slipcase, e para os que comprarem na pré-venda, um pôster exclusivo, algo que tem sido uma constante nos lançamentos da Cold Art Industry Records).

Basicamente, Aealo é muito amplo em termos musicais, muito diversificado, mas sempre coeso. Do uso de cantos em grego contrastando com a violência musical de “Aealo”, passando pela brutalidade melódica e impactante de “Eon Ænaos” (que mostra excelentes arranjos de guitarras) e de “Δαιμόνων βρῶσις” (ou “Demonon Vrosis”, com ótimo trabalho rítmico de baixo e bateria, com corais esotéricos que irão ser importantíssimos em futuros trabalhos do quarteto), pela cadência mais sedutora de “Noctis Era” (que é mais simples, e assim, pode ser assimilada facilmente pelos ouvintes), pela instrumental “Dub-Saĝ-Ta-Ke” e da complexidade técnica e permeada de esoterismo de “Fire, Death and Fear” (inclusive com algumas partes permeadas de groove, para desespero dos mais puritanos). “Nekron Iahes…” é composta de cânticos, e serve como introdução para “…Pir Threontai” (que tem um carrego denso do Metal germânico em termos de riffs, e cuja ambientação remete aos primeiros discos do grupo por conta das guitarras melódicas à lá Iron Maiden assentadas sob uma colcha de teclados sinistros), e na sequência, vem a ritualística “Thou Art Lord” (cujo nome remete a um projeto musical paralelo de Sakis de mesmo nome), e na sequência, vem a veloz e cheia de energia “Santa Muerte” (com algumas passagens mais lentas permeadas por corais esotéricos providenciais). E fechando, uma versão do grupo para “Orders from the Dead”, da cantora Diamanda Galás (que inclusive faz os vocais nela), algo realmente ambientado no horror puro e simples.

Pode-se dizer que Aealo é um disco cheio de nuances e elementos étnicos que é uma tentação auditiva mesmo para os que não são fãs de Metal extremo. Mas quem conhece o Rotting Christ, sabe que eles não são uma banda parada no tempo…

Facebook: Rotting Christ
País: Grécia
Gênero: Epic Black Metal
Selo: Cold Art Industry Records

PONTUAÇÃO: 10/10