31 anos da primeira vez do DESTRUCTION no Brasil.

Os dias estão passando tão rápido, pelo menos é a minha impressão, que é hora de postar outro capítulo do nosso especial que conta a saga dos shows internacionais por nossas paradas no fundamental ano de 1989. Então, após o show perfeito do Uriah Heep, e posso afirmar que perfeito em todos os sentidos, a localização, o som, a apresentação, etc; era hora de voltar e encarar uma nova ida até a zona leste e ir curtir o show do Destruction no Projeto Leste I, de triste lembrança, pois foi ali que o show do Kreator não aconteceu, conforme já contamos tudo a respeito na primeira parte do nosso especial “… PRA FICAR!!!”.

Felizmente dessa vez a banda alemã escalada veio e uma boa promoção para o show já estava em andamento desde maio pela Hurricane, a mesma produtora que havia colocado o Nuclear Assault em nossos palcos pela primeira vez, o que dava uma sensação de que ia dar tudo certo. Foram confirmadas para a abertura as bandas Hammerhead e Korzus e a data, 12 de agosto, no já citado Projeto Leste I, no Bairro da Mooca.

As primeiras informações cravavam que seriam duas datas, 11 e 12, mas eu acredito que a experiência dos recentes eventos realizados por aqui, acabou pesando na decisão por uma data única e foi uma escolha acertada como vamos comentar um pouco mais adiante.

Existem muitas estórias sobre as aventuras vividas pelos alemães durante os dias que antecederam o evento. Eles desembarcaram aqui em São Paulo na segunda e não pararam mais visitando tudo que podiam. Foram no Aeroanta, nas lojas da Galeria do Rock e em boa parte do tempo, não sendo muito reconhecidos, para sorte deles, pois o povo já era bem pegajoso, no bom sentido, naqueles tempos com seus ídolos também.

O Destruction ficou hospedado no ABC paulista, no Pampa Hotel e claro, os músicos foram conhecer a cidade. E foi graças a uma dessas saídas da banda que consegui meu ingresso. A produtora do show levou os caras para um buteco (ou barzinho, já que era um ambiente de ‘boy’ e nada roqueiro) lá de Santo André em uma das noites. Eu conhecia uma das garçonetes desse bar, pois eu também trabalhava em Santo André e conversando certo dia ela me contou sobre um grupo de cabeludos gringos que bebiam muito terem ido ao trabalho dela e que tinham lhe dado um convite para um show. Convite esse que ela gentilmente me ofereceu, já que música pesada não era a praia dela, e eu aceitei com as duas mãos.

No dia 12 a minha principal lembrança é que tinha muita gente na porta do local, alguns ônibus de caravanas, carros com som bem alto rolando thrash é claro. Graças aquela cortesia entrei sem dificuldade alguma, bem diferente da maioria que estava encarando uma longa fila. A coisa foi tão enrolada que o Hammerhead subiu ao palco para pouco público. Não tenho lembranças do show deles, na verdade o que eu me lembro sobre o Hammerhead é que o som deles era bem na linha do Anthrax e por isso eu achava bem legal.

A casa foi enchendo e quando o Korzus começou seu set tudo começou a complicar. Definitivamente o pessoal aqui no Brasil não sabia brincar no que se referia à cultura do ‘mosh’ em show. Teve uma hora que tinha tanta gente em cima do palco que faltava espaço pros músicos. Ai o relacionamento “bangers x seguranças” que nunca foi muito bom entrava em atritos constantes. O Pompeu, vocalista do Korzus, tentou ponderar algumas vezes, mas o tempo para se apresentar já era pouco, se ficasse falando muito daí é que não tocariam nada.

A expectativa aumentava proporcionalmente ao intervalo entre uma banda e outra, mas finalmente o Destruction, naquela época um quarteto, invadiu o palco com o som oscilando muito e detonando a paulada “Curse the Gods”. Demorou umas três ou quatro músicas para a banda e o pessoal da mesa entrar em um acordo e o som ficar um pouco melhor, mas sinceramente eu não estava nem ligando, tal era a minha felicidade de ter visto de perto eles tocarem a “Thrash Attack”.

Diferente dos caras do Testament que corriam para todo lado durante o show, Schmier e companhia ficavam mais centrados em seus instrumentos, apenas balançando as cabeleiras. Até a metade da apresentação, tava tudo indo muito bem, mas o povo do mosh resolveu atacar em peso num determinado momento que virou bagunça. Uns caras subiram no palco e não desciam mais, gritavam no microfone, atrapalhavam os músicos que levaram na boa até onde deu. Mas na hora da “Mad Butcher” a coisa se tornou tão impraticável que eles pararam de tocar. Daí toda uma ‘limpeza’ foi feita no palco e eles puderam recomeçar a música dessa vez com o pessoal colaborando um pouco mais, mas só um pouco. Encerrando a noite o hino “Bestial Invasion” que transformou o local em um tumulto só, mas foi muito legal.

Como a casa quase lotou – li relatos posteriores em ‘zines’, que estiveram presentes por volta de 3 mil pessoas no evento – mas não faço a menor ideia de qual era a capacidade que o Projeto Leste I possuía, só que tava bem cheio e tinha gente pacas. E ficou provado que uma data foi mais do que suficiente.

Nos dias seguintes entre uma ida na Galeria do Rock e uma passada na Woodstock Discos, os relatos sobre as peripécias do Destruction, se foram verdadeiras ou não, sabe-se lá,  pela Grande São Paulo rendiam muitas conversas e muitas risadas. Além da satisfação de sentir que as coisas tinham entrado nos trilhos definitivamente e que as bandas gringas estariam com frequência ao nosso alcance.

A edição número 42 da revista Rock Brigade, publicada em outubro, trouxe um entrevista muito legal com os membros do Destruction realizada antes do dia do show e entre as perguntas uma indagação sobre o furo do Kreator no início do ano, o que era bem pertinente, pois ambas as bandas são do mesmo país e os músicos se conheciam. Em uma resposta bem política a banda se mostrou chateada por causa da situação criada por aqui, mas que tinham conversado com o Kreator recentemente e disseram que a banda estava comprometida a mudar esse panorama o mais rápido possível, e de fato, em 1992 durante sua primeira visita ao Brasil, o mal estar foi definitivamente superado.

Que ano foi esse o de 1989. E sabe o que foi o melhor? O maior nome ainda estava por vir e o sonho de muitos headbangers brazucas estava para se realizar, mas desse assunto vamos tratar detalhadamente na próxima parte do nosso especial. Pois como você já bem sabe, em 1989 os shows internacionais chegaram ao Brasil… PRA FICAR!!!

Destruction Brazilian Tour ’89:

– São Paulo, 12 de agosto.

Setlist :

  1. Curse the Gods
  2. Thrash Attack
  3. Reject Emotions
  4. Dissatisfied Existence
  5. Invincible Force
  6. Release From Agony
  7. Mad Butcher
  8. Eternal Ban
  9. Plead Guilty
  10. Life Without Sense
  11. Death Trap
  12. Bestial Invasion

Nota: Republicamos a matéria do Paulo Márcio porque não é todo dia que um showzaço como esses faz 31 anos.